“Acabou por haver alguma falta de capacidade em termos da oferta face à procura que houve”, afirmou à Lusa o presidente da ANEFA, Pedro Serra Ramos, explicando que os proprietários, que têm que assegurar a limpeza dos terrenos até 31 de maio para evitar coimas por incumprimento, optaram por recorrer a empresas que trabalham nesta área, mas que não são profissionais na gestão de combustível florestal, nomeadamente empresas de jardinagem e de tratamento de espaços verdes.
Apesar do aumento da procura, das cerca de 300 empresas profissionais na gestão do combustível florestal em Portugal, “existem empresas ainda hoje que não estão a ser utilizadas”, avançou Pedro Serra Ramos, justificando que tal situação “depende muito da região onde é para fazer o trabalho e dos custos”.
Questionado se houve um aumento dos preços face à procura, o responsável da ANEFA disse que “o disparar de preços aconteceu, sobretudo, não com o preço hora, mas muitas vezes com o preço do trabalho final”, advogando que a utilização de recursos que não estão habituados profissionalmente a fazer a limpeza de terrenos florestais levou a que o trabalho demorasse mais tempo, pelo que “podem apresentar um preço hora mais barato, mas depois no final o trabalho sai mais caro, porque gastaram mais horas a fazer”.
“Muitas das pessoas que andam a trabalhar nem um equipamento de proteção individual têm e as máquinas não são adequadas”, apontou o representante das empresas florestais.
O aumento da procura podia ter potenciado a criação de empresas profissionais na gestão do combustível florestal, mas tal não aconteceu, devido à “sazonalidade” do trabalho, referiu Pedro Serra Ramos, sublinhando que “ninguém vai contratar nem gente, nem fazer grandes investimentos, se não tiver uma garantia de trabalho e essa garantia de trabalho já há muito tempo que desapareceu”.
“As empresas que trabalham neste setor têm sofrido altos e baixos. […] Há empresas que tinham 23 máquinas que passaram a ter três máquinas, isto reflete bem a descontinuidade em termos de trabalho que existe ao longo do ano”, indicou o presidente da ANEFA, criticando a atual legislação que condiciona o trabalho das empresas durante o verão, nomeadamente quando o país está em alerta laranja ou vermelho devido ao risco de incêndio.
Em relação às zonas do país que mais carecem de recursos para a limpeza de terrenos, o representante das empresas florestais afirmou que o problema afeta, normalmente, os aglomerados populacionais mais intensos como Lisboa e Porto, onde “há muita coisa que precisava de ser limpa há algum tempo, mas que dada a sua dispersão era difícil fazê-lo e, sobretudo, as pessoas não tinham essa preocupação”.
“Estamos a falar da limpeza de uma floresta periurbana, ou seja, de uma floresta que existe em torno dos aglomerados urbanos, portanto onde esses aglomerados são mais dispersos e são mais intensos […] é onde acaba por haver mais trabalho e, portanto, mais falta de empresas”, justificou Pedro Serra Ramos.
Além dos grandes centros urbanos, o problema de falta de recursos para a gestão de combustível florestal afeta os concelhos do interior do país, devido ao despovoamento e ao envelhecimento da população, de acordo com o responsável da ANEFA.
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