“Esta iniciativa foi uma decisão muito importante. Há muitos meses que está a ser discutida e a ser planeada, porque chegou o tempo para o Tibete. Perdemos o nosso país há 60 anos. E também são cerca de 60 anos de silêncio por parte das Nações Unidas e por parte da comunidade internacional”, disse hoje, numa entrevista à agência Lusa, Thubten Wangchen, que desde 2011 é membro do parlamento tibetano no exílio, com sede em Dharamsala (norte da Índia).
Lisboa foi a segunda paragem do périplo europeu “Diálogo para a Paz”, que arrancou na segunda-feira em Barcelona e que irá passar durante os próximos dois meses por cidades como Bruxelas, Paris, Londres, Berlim, Copenhaga, Viena ou Bucareste.
À Lusa, Thubten Wangchen explicou que a iniciativa pretende ser um “apelo urgente” à União Europeia (UE) e aos governos e parlamentos europeus para que unam vozes e tentem promover um diálogo, um “frente-a-frente”, entre o Dalai Lama (o líder espiritual tibetano que vive exilado desde 1959 em Dharamshala) e o Presidente chinês, Xi Jinping, “o mais rápido possível”.
Diálogo esse, segundo defendeu, deve ser realizado sob os auspícios das Nações Unidas e da comunidade internacional.
Thubten Wangchen lembrou que desde 2008 não existem negociações entre o Dalai Lama e Pequim.
“O que procuramos é um diálogo verdadeiro. (…) Para tentar encontrar uma solução, uma solução de compromisso, que seja boa para o Tibete e que seja boa para a China. Não estamos a pedir a separação, não estamos a pedir a independência da China. Pedimos um caminho intermédio, uma solução de meio-termo, uma autonomia genuína da China”, afirmou o representante.
“Uma autonomia genuína dentro da China, que respeite a nossa identidade, a nossa língua, a nossa religião e os nossos direitos humanos”, reforçou.
Apesar dos pedidos efetuados, a passagem por Lisboa ficou marcada pela ausência de contactos com representantes políticos.
“Tentámos agendar alguns contactos com políticos portugueses, mas infelizmente nenhum dos contactos se concretizou” devido a questões de agenda, lamentou Thubten Wangchen, realçando, no entanto, ter recebido algumas mensagens de apoio.
“A principal mensagem para os políticos é que não esqueçam a existência do Tibete”, salientou o representante, admitindo, porém, a existência de fortes argumentos dissuasores.
E prosseguiu: “Não perdemos a nossa esperança. Todos os países fizeram o seu melhor, mas, neste momento, a força económica da China está a crescer de forma tão poderosa. Por isso, quase todos os políticos têm de olhar, em primeiro lugar, para os interesses dos seus próprios países”.
A viver em Barcelona, onde criou na década de 1990 a Casa do Tibete, Thubten Wangchen lembrou que o Tibete, território que deixou aos cinco anos de idade, continua a sofrer efeitos da repressão das autoridades governamentais chinesas, denunciando, por exemplo, detenções e o controlo das telecomunicações, sem esquecer igualmente a pressão exercida sobre os recursos naturais daquela região.
Também lembrou os cerca de 153 tibetanos, incluindo monges e monjas, que se autoimolaram desde 2009 para exigirem a liberdade para o Tibete e o regresso do Dalai Lama à atual província chinesa.
No passado 10 de março foi assinalado o 60.º aniversário da Revolta Nacional Tibetana (1959), tentativa frustrada de rebelião contra a administração chinesa que terminou com o exílio na vizinha Índia do Dalai Lama, que Pequim acusa de ter “uma postura separatista”.
A 14 de março de 2008, a capital da região autónoma do Tibete, Lhasa, foi palco de violentos ataques contra a presença chinesa, que fizeram 18 mortos, segundo dados do Governo chinês. Um número desconhecido de tibetanos foi morto pelas tropas chinesas na sequência destes incidentes.
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