“As previsões agrícolas, em 31 de janeiro, apontam para que a campanha oleícola de 2021 atinja a maior produção de azeite de sempre (2,25 milhões de hectolitros), consequência das excelentes condições agrometeorológicas ao longo da campanha e da profunda reestruturação da fileira, da qual se destaca a importância crescente dos olivais intensivos”, refere o Instituto Nacional de Estatística (INE).
“Em contrapartida – acrescenta – observam-se já os efeitos negativos da seca meteorológica severa e extrema que, no final de janeiro, afetava 45% do território continental” e cujo impacto se faz sentir, sobretudo, na produção pecuária, na cerealicultura e na subida dos preços dos meios de produção.
Segundo o INE, “um dos setores mais penalizados tem sido a produção pecuária, em particular a extensiva, devido às fracas condições de pastoreio, que obrigam a uma suplementação extraordinária destes efetivos”.
Contudo, também na cerealicultura “se registam impactos, quer na diminuição das áreas semeadas (previsivelmente a menor dos últimos cem anos), quer no fraco desenvolvimento vegetativo das searas de sequeiro”.
De acordo com o instituto estatístico, “este cenário de seca, aliado à subida dos preços dos meios de produção, tem gerado incerteza e preocupação crescente no setor”.
No que diz respeito à campanha oleícola de 2021, “é a mais produtiva de sempre, devendo alcançar os 2,25 milhões de hectolitros de azeite”, o que representa uma subida 46% face à produção de 2019, que tinha já sido “o segundo melhor registo desde 1915”.
Para este máximo de produção, o INE diz terem contribuído “as condições meteorológicas favoráveis, principalmente na floração e vingamento dos frutos, aliadas ao facto de ser um ano de safra”.
Paralelamente, também o aumento do peso dos olivais intensivos de regadio na estrutura do olival nacional “contribuiu de forma determinante para esta produção histórica de azeite”, acrescenta.
O azeite produzido “apresenta boa qualidade, com baixa acidez e boas características organolépticas”, destacando-se como “aspeto menos positivo” o esgotamento da capacidade instalada para o processamento do bagaço de azeitona, “que levou mesmo à interrupção da laboração em alguns lagares”.
Este cenário contrasta com o do setor agropecuário, penalizado pelo aumento dos custos de produção resultante da situação de seca severa e extrema em algumas regiões, nomeadamente o Sul e o interior Norte e Centro, que obrigou à suplementação extraordinária dos animais.
Segundo o INE, nas regiões mais afetadas pela falta de água “as condições de pastoreio agravaram-se, sendo muito deficitárias nas pastagens de sequeiro”, pelo que “o recurso a forragens armazenadas, palhas e rações industriais nos efetivos explorados em regime extensivo tem sido bastante superior ao normal para a época”.
Como resultado, entre setembro e dezembro de 2021, o preço dos alimentos para animais aumentou 17%.
Também penalizada pela seca está a ser produção de cereais de inverno, cuja área atingiu “mínimos históricos” nesta campanha.
Assim, as áreas de cereais de inverno para grão deverão ser inferiores às do ano anterior (-5%), “em resultado da dificuldade de execução dos trabalhos, bem como do risco associado à instalação das searas num quadro de escassez de precipitação e de índices de água no solo muito baixos”.
O INE aponta que, além dos aspetos agrometeorológicos, “o forte aumento do preço dos meios de produção poderá também ter contribuído para a diminuição das áreas dos cereais praganosos”.
É que, desde setembro de 2021, o preço dos adubos aumentou 73% e o do gasóleo colorido 7%, “fazendo aumentar a incerteza e anulando o potencial efeito que a tendência altista dos preços destas ‘commodities’ (em particular do trigo) nos mercados internacionais poderiam ter no aumento das áreas”.
“Esta conjuntura desfavorável veio reforçar a tendência de perda de importância dos cereais de inverno para grão, prevendo-se uma área global a rondar os 103 mil hectares, a mais baixa dos últimos cem anos”, refere o instituto.
A falta de chuva tem também condicionado o desenvolvimento das searas dos cereais praganosos, com as semeadas no cedo a apresentarem um “fraco desenvolvimento vegetativo”.
Já as searas que foram semeadas tardiamente “não germinaram, devido à ausência de chuva no mês de janeiro, sendo a situação muito preocupante em todo Alentejo (região que representou mais de três quartos da produção de cereais de inverno nos últimos cinco anos)”, nota o instituto estatístico.
Para a aveia, cereal de sementeira mais precoce, prevê-se uma redução na produtividade na ordem dos 40%.
Segundo o INE, no final de janeiro, e de acordo com o índice meteorológico de seca PDSI4, observou-se “um agravamento significativo da situação de seca meteorológica”, que já abrange a totalidade do território continental.
As classes mais intensas (severa e extrema) ocupavam 45% do território (9% no final de dezembro), particularmente nos distritos de Lisboa, Setúbal, Beja e Faro, mas também em extensas zonas dos distritos de Bragança, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Évora e Portalegre.
Quanto às reservas hídricas, o volume de água armazenado nas albufeiras de Portugal continental encontrava-se nos 60% da capacidade total, valor inferior ao registado no final do mês anterior (61%) e ao valor médio de 1990/91 a 2020/21 (72%).
Em janeiro, o nível de armazenamento nas albufeiras do Continente era inferior ao registado nas secas das duas últimas décadas, nomeadamente em quatro pontos percentuais., face à seca de 2005, a mais severa.
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