Citado pela agência noticiosa espanhola, o presidente da Associação Polaca de Produtores de Gado Bovino e especialista da Federação das Associações de Produtores Agrícolas da Polónia, Jacek Zarzecki, afirmou que a passagem pela Polónia de cereais produzidos na Ucrânia “representa uma ameaça futura para todos os países europeus, pois as boas condições naturais, os custos e os métodos de produção” permitem à Ucrânia oferecer preços mais competitivos.

O defensor da agricultura biológica e sustentável Lukasz Pergol, que tem uma quinta com 400 hectares no norte do país, afirmou à Efe que a entrada da Ucrânia na UE vai levar à destruição do mercado agrícola da Polónia.

A Polónia voltou a permitir na sexta-feira o trânsito de cereais e de outros produtos agrícolas da Ucrânia, depois de quase uma semana de suspensão.

Varsóvia e outros governos de países da União Europeia que fazem fronteira com a Ucrânia proibiram temporariamente as exportações de cereais ucranianos, após os protestos dos agricultores que se queixam contra a descida dos preços dos produtos nacionais.

Segundo o executivo polaco, a União Europeia não antecipou as consequências de permitir a compra descontrolada — sem quotas ou controlos de qualidade — de cereais ucranianos.

“Apenas aqueles que têm milhares de hectares sobreviverão”, disse Pergol, questionando se “é isso que a União Europeia quer”.

Além de cereais, a lista de produtos agroalimentares que a Polónia proibiu de importar inclui açúcar, fruta e legumes frescos ou transformados, carne, laticínios, ovos, álcool e mel.

Hungria e Eslováquia aderiram ao boicote polaco, levando Bruxelas a anunciar um pacote de ajudas no valor de 100 milhões de euros.

Os cereais ucranianos destinados aos países estrangeiros transitam para a União Europeia depois de o itinerário tradicional de exportação através do Mar Negro ter sido bloqueado pelas forças russas, após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

O trânsito através da Polónia de vários produtos alimentares, entre os quais o açúcar, carne, frutos e legumes, foi autorizado a partir das 02:00 (00:00 em Lisboa), após a entrada em vigor de um decreto governamental.

De acordo com a nova legislação, os exportadores ucranianos não podem vender os produtos durante o trânsito através do território polaco.

A decisão de proibir a importação foi adotada sem consultar o Governo de Kiev e a Comissão Europeia, provocando críticas.

Após o início da invasão, os cereais ucranianos foram armazenados na Polónia, o que forçou a descida dos preços dos produtos locais, manifestações e a demissão do ministro polaco da Agricultura.

Na passada terça-feira, Kiev anunciou um acordo sobre autorizações de trânsito através da Polónia, sob controlo, implicando o uso de meios eletrónicos e de localizadores (GPS) nos meios de transporte.

As autoridades alfandegárias vão também acompanhar os meios de transporte utilizados.

Por enquanto, a tensão permanece elevada entre os agricultores polacos, e a situação poderá ganhar uma nova dimensão estratégica nas eleições no outono, uma vez que o partido do Governo na Polónia tem no setor agrícola um dos seus principais pilares.

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