
Uma investigação divulgada pelo jornal britânico The Guardian revela novos detalhes sobre uma sofisticada campanha de sabotagem atribuída aos serviços secretos russos, a GRU, que terá envolvido o envio de encomendas contendo explosivos disfarçados de produtos inofensivos, como brinquedos sexuais e cosméticos.
A operação terá sido coordenada a partir de solo europeu por indivíduos recrutados através da aplicação Telegram e culminou com a detenção de vários suspeitos em diferentes países, incluindo aquele que é considerado o principal responsável, Alexander Bezrukavyi.
Em novembro de 2024, Bezrukavyi foi intercetado numa pousada na cidade fronteiriça de Bosanska Krupa, na Bósnia-Herzegovina, após três meses em fuga. Acusado de trabalhar para a inteligência militar russa, foi extraditado para a Polónia em fevereiro de 2025, onde enfrenta acusações de coordenação de atos de sabotagem e uso de materiais incendiários.
O grupo de que Bezrukavyi fazia parte operava a partir da Polónia e da Lituânia, sendo responsável pelo envio de várias encomendas por via aérea, algumas das quais explodiram em locais como Birmingham (Reino Unido), Leipzig (Alemanha) e nos arredores de Varsóvia (Polónia).
O conteúdo dos pacotes, aparentemente inócuo, incluía vibradores, lubrificantes, almofadas de massagens e tubos de cosméticos — alguns destes adaptados para conter substâncias inflamáveis como magnésio ou nitrometano.
As autoridades ocidentais consideram que estas explosões constituíram um risco real para a aviação comercial, já que muitas destas encomendas eram transportadas em aviões de carga que partilham espaço com passageiros. O alarme foi tal que altos responsáveis da administração de Joe Biden contactaram diretamente o Kremlin, exigindo o fim imediato da operação.
As investigações levaram à descoberta de uma rede coordenada por um utilizador da aplicação Telegram identificado como “VWarrior”, alegadamente um agente da GRU. Este recrutava indivíduos com antecedentes criminais e em dificuldades financeiras, oferecendo-lhes pagamentos em criptomoeda por serviços de transporte de encomendas entre países europeus. Entre os cúmplices estavam cidadãos ucranianos e russos, com ligações ao submundo criminal e ao contrabando transfronteiriço.
O plano, segundo as autoridades polacas, não visava apenas a Europa: houve tentativas de envio de encomendas para os Estados Unidos e Canadá, numa possível preparação para atos de sabotagem de maior escala fora do continente europeu. Aparentemente, algumas dessas remessas funcionariam como “testes” logísticos, com bens como roupa desportiva, para aferir tempos de entrega e reações alfandegárias. Uma das formas de envio era através da DHL.
A operação de contra-inteligência envolveu autoridades de diversos países europeus, incluindo a Polónia, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Lituânia e Bósnia-Herzegovina.
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