Numa publicação na rede social Facebook, a Plateia refere que a censura ao texto da dramaturga Regina Guimarães "replica o que de pior caracterizou os três mandatos de Rui Rio" na Câmara do Porto, que, assumindo-se como "o censor-mor da cidade", inseriu nos contratos uma cláusula que impõe que a entidade com quem celebrou contrato se abstenha de, "publicamente, expressar criticas que ponham em causa o bom nome e a imagem do município".

"O pior é que com o outro Rui, pelo menos as coisas eram às claras: com este Rui [Moreira], não", lê-se na referida publicação.

Agora, acrescenta a associação, é mais complexo, na medida em que "ao que parece" há um presidente de câmara "desprendido e tolerante", mesmo no quadro de coproduções com a autarquia, mas existe "entrincheirada no Teatro Municipal, uma Guarda Pretoriana que assume, sem qualquer mandato, a demarcação de um território em que nenhuma palavra de crítica ao município pode ser tolerada".

A associação que agrega cerca de 90 profissionais e mais de 30 estruturas do norte de Portugal afirma que "foi assim aquando da não realização, em setembro, do projeto de abertura da temporada no Teatro Municipal, foi assim, em outubro, no lançamento de um livro no Teatro Rivoli" e "foi assim na eliminação da folha de sala do espetáculo 'Turismo', por causa de uma nota de rodapé".

Sobre estas acusações, o Teatro Municipal do Porto não se quis pronunciar. A Lusa pediu também uma reação à câmara municipal, mas até ao momento sem sucesso.

Esta tarde, também através de uma publicação na sua página no Facebook, o Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE) manifestou "a sua inteira solidariedade para com a liberdade de expressão, sempre que a mesma não se traduza em ofensa injustificada, de todo e qualquer profissional do espetáculo que, no exercício das suas funções, manifeste a sua opinião sobre todo e qualquer assunto".

Por oposição, lê-se na nota publicada hoje, rejeitam "qualquer ato intimidatório e/ou de censura que o impeça de acontecer".

Desde que, na segunda-feira, a dramaturga Regina Guimarães acusou aquela estrutura municipal de censurar um texto da sua autoria, várias instituições e personalidades têm vindo a manifestar publicamente a sua solidariedade.

Em causa, está uma nota de rodapé onde a escritora critica a noção de 'cidade líquida' de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015, afirmando que aquele responsável inundou os portueneses de "discurso delirante", no intuito de "legitimar teoricamente as escolhas políticas na sua área de atuação, positivando, por ignorância ou descarada mentira, uma noção que, para o sociólogo inventor do conceito, consubstancia o horror contemporâneo da perda de laços".

A referida nota foi escrita para ser integrada na folha de sala do espetáculo "Turismo", da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, que esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Hoje, também no Facebook, o encenador do espetáculo, Tiago Correia, desmentiu o diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, acusando-o de chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder.

Numa primeira reação, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantira que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância com o encenador do espetáculo, e que este lhe tinha até pedido desculpa.

Esta tarde, questionado pela Lusa, e já depois do desmentido de Tiago Correia, o Teatro Municipal do Porto reiterou a versão contada pelo seu diretor, afirmando novamente que Tiago Guedes "articulou com o encenador da peça em causa a sua não distribuição, tendo obtido a sua concordância, como o próprio seguramente confirmará".

A peça aborda o fenómeno da gentrificação das cidades e o fenómeno dos despejos, perante a pressão imobiliária, através de diversos prismas.

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