Às eleições internas agendadas para 29 de setembro - após o atual líder regional, Duarte Freitas, eleito em 2013, ter anunciado que estava de saída – candidatam-se Pedro Nascimento Cabral, advogado, e Alexandre Gaudêncio, autarca.
Duarte Freitas, antigo eurodeputado, protagonizou, no âmbito do processo de renovação que encetou na estrutura partidária, uma fragmentação interna quando afastou Mota Amaral (presidente do Governo Regional durante cinco mandatos) da lista de candidatos a deputados à Assembleia da República.
Depois de 20 anos de governo ‘laranja’ no arquipélago, os sociais-democratas viram Carlos César levar o PS ao poder em 1996 - os socialistas mantêm-se no executivo nos Açores há 22 anos, somando seis vitórias nas legislativas regionais.
Com a saída da cena política regional do antigo presidente da Assembleia da República, em 1995, o candidato natural que se seguiu foi Álvaro Dâmaso, advogado, secretário regional de diferentes pastas, gestor de empresas públicas, ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e considerado ‘delfim’ de Mota Amaral.
Porém, manteve-se na liderança da estrutura partidária por pouco tempo, após a derrota nas regionais de outubro de 1996.
Carlos Costa Neves, que já foi ministro da Agricultura e do Ambiente, além de eurodeputado, foi presidente do PSD/Açores entre 1997 e 1999 e, novamente, entre 2005 e 2007. Tentou derrubar o PS de Carlos César por duas vezes, com candidaturas diferentes, mas sem efeito.
Além de repartir o seu tempo entre Bruxelas e os Açores e de, de alguma forma, ter sido penalizado por ser natural da ilha Terceira, numa altura em que havia a forte convicção interna de que o partido teria de ser liderado por um social-democrata de São Miguel, Costa Neves não conseguiu passar a mensagem e saiu.
Manuel Arruda (1999-2000), que foi presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, também tentou a sua sorte, mas foi derrotado por Carlos César nas regionais de 2000 e abandonou a liderança.
Seguiu-se o amigo pessoal do ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho Victor Cruz (2000-2005), antigo líder da JSD/Açores, que desempenhou várias funções políticas.
Não resistiu aos fracos resultados da coligação eleitoral firmada a nível nacional na altura entre PSD e CDS-PP.
O atual gestor do grupo Bensaúde, o maior grupo económico dos Açores, ganhou as autárquicas que se seguiram após a derrota nas eleições legislativas regionais e depois saiu da gestão ‘laranja’.
Após o segundo mandato de Costa Neves surgiu no partido a economista Berta Cabral, que angariou para o PSD/Açores uma série de vitórias na Câmara Municipal de Ponta Delgada e cedo foi vista como potencial presidente do executivo regional.
Apresentou-se nas eleições legislativas regionais de 2012 contra Vasco Cordeiro, a figura escolhida por Carlos César para o suceder na liderança do partido. Para a sua derrota terá contribuído a entrada em vigor do pacote de austeridade determinado por Pedro Passos Coelho na sequência da intervenção da ‘troika’ em Portugal.
Na altura, ficou célebre uma frase de Passos Coelho: "Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal".
A Berta Cabral sucedeu o ex-eurodeputado Duarte Freitas, que regressou aos Açores com a intenção de renovar o partido e prepará-lo para as tão desejadas vitórias.
As eleições internas do partido foram agendadas para o dia 29 de setembro, depois de o atual líder regional, Duarte Freitas, ter anunciado que estava de saída por falta de “condições pessoais e familiares” para permanecer no cargo.
Alexandre Gaudêncio, presidente da Câmara da Ribeira Grande, vai defrontar na corrida eleitoral social-democrata o advogado de Ponta Delgada e militante Pedro Nascimento Cabral.
Nascimento Cabral quer autonomia a evoluir para Estado federal
O candidato à liderança do PSD/Açores Pedro Nascimento Cabral defende que a autonomia do arquipélago deve evoluir para um Estado federal constituído por três parcelas - continente, Açores e Madeira -, visando um maior desenvolvimento económico e social.
Considerando que o regime autonómico “não tem sido usado de forma conveniente pelo Governo Regional do PS” e que ainda há “margem para usar algumas prerrogativas”, o militante social-democrata desde 1996 afirma, em entrevista à agência Lusa, que este tem que ser um processo "reivindicativo e evolutivo".
“Só depois de esgotarmos a autonomia se poderá evoluir para um novo patamar de sistema político constitucional que é um Estado português federal com três parcelas: continente, Açores e Madeira”, declarou o antigo líder da JSD/Açores, casado e pai de dois filhos.
O advogado, filho de um jornalista e militante histórico do PSD/Açores que desempenhou as funções de deputado no parlamento açoriano, não quer que a região se “conforme com o sistema autonómico para sempre”.
O candidato às eleições de 29 de setembro defende a criação de partidos regionais, a organização de listas de cidadãos ao parlamento dos Açores, a extinção do cargo de representante da República - cujos poderes, entende, devem ser assumidos pelo Presidente da República - e a redução do número de deputados, a par da reforma do sistema eleitoral e do funcionamento do parlamento, que deve contemplar um debate quinzenal com a presença do presidente do Governo.
Para o ex-dirigente, que presidiu ao Conselho de Jurisdição do PSD/Açores, a sua candidatura resulta de um “inconformismo tremendo” face ao atual panorama político da região, com a estrutura partidária a assumir, nos últimos anos, um conjunto de derrotas eleitorais.
Propondo-se a "mudar o paradigma" da atuação do PSD/Açores e da política açoriana, o candidato afirma que, após quase 25 anos de governação socialista, a região se encontra numa situação “absolutamente degradante” nos seus vários setores, apresentando a educação a mais baixa taxa de abandono escolar, enquanto na saúde as listas de espera têm vindo a crescer constantemente.
Também nos transportes aéreos e marítimos de passageiros e carga se assiste, segundo o advogado, a uma “constante incerteza”, a par da “catástrofe que são as empresas públicas regionais”, com milhões de prejuízos.
Pedro Nascimento Cabral considera que se assiste a um “completo desnorte e esgotamento” da maioria socialista, que “está em fim do ciclo”, estando os militantes e os açorianos desejosos de mudança.
Tendo o PSD uma ideologia “devidamente marcada”, o candidato não pretende transformar a estrutura numa força de direita ou esquerda, defendendo a “livre iniciativa do mercado” em alternativa a uma “região assistencialista”, muito embora manifeste a necessidade de se ter “alguma atenção” a setores como a educação e a saúde, por exemplo.
O candidato cola o seu adversário político, Alexandre Gaudêncio, vice-presidente da Comissão Política Regional, ao "conflito geracional" que a ainda direção do PSD/Açores, liderada por Duarte Freitas, protagonizou, e que acabou no afastamento do histórico Mota Amaral, "fragmentando o partido e originando graves consequências em termos de organização do partido".
Alexandre Gaudêncio quer mobilizar para o PSD Açores cidadãos com "provas dadas"
A definição de um “novo rumo” para o PSD/Açores é a proposta da candidatura de Alexandre Gaudêncio à liderança da estrutura, querendo o candidato mobilizar para o partido cidadãos com “provas dadas”.
O jovem autarca, presidente da Câmara da Ribeira Grande (a segunda cidade mais importante da ilha de São Miguel), militante do partido desde 2001, casado e pai de dois filhos, encara a política “não como uma profissão, mas como um serviço público em prol das pessoas”.
Em entrevista à agência Lusa, Gaudêncio afirma que quer ir “buscar os melhores” à sociedade açoriana para o PSD/Açores.
O militante social-democrata - que já desempenhou as funções de secretário-geral de Duarte Freitas, atual líder do partido, e que atualmente é vice da Comissão Política Regional - pretende também dar um “destaque especial” às mulheres na estrutura partidária na promoção da igualdade de género e de oportunidades, gerando-se um fator diferenciador também neste capítulo, através da revitalização do movimento das mulheres sociais-democratas.
O autarca, que ganhou notoriedade política com uma vitória expressiva na Ribeira Grande, nas eleições autárquicas de 2013, derrubando o candidato socialista Ricardo Silva, quer transformar o PSD/Açores numa verdadeira escola de formação política e de valores promovendo a formação, em particular no poder local, através da criação de uma academia.
Sendo o PSD um partido “de base e do povo”, há que, na leitura de Alexandre Gaudêncio, preparar os autarcas sociais-democratas para “melhor servir as pessoas” através de parcerias, por exemplo, com o Instituto Sá Carneiro.
O candidato pretende um partido “mais interventivo, virado para a sociedade e que, acima de tudo, possa responder aos desafios com que as pessoas estão a ser confrontadas” e, em 2020, nas eleições legislativas regionais, consiga retirar o PS do poder, o que “não é de todo impossível”.
O dirigente social-democrata diz também querer recuperar a mística vencedora dentro do partido após as sucessivas derrotas eleitorais.
Sendo este um projeto “de pontes e não de barreiras” com todos os militantes, Alexandre Gaudêncio pretende recuperar os princípios da fundação do partido, que deve ser autónomo e virado para a sociedade na perspetiva de que “a economia deve ser estar ao serviço das pessoas e não as pessoas ao serviço da economia”.
Alexandre Gaudêncio quer ainda um partido ao serviço das nove ilhas dos Açores, de Santa Maria ao Corvo, “sem descurar ninguém”, o que também constava dos princípios do PPD/PSD regional de Mota Amaral, defendendo uma linha progressista, reformista face às novas realidades atuais.
Gaudêncio quer um “partido autónomo” da estrutura nacional, em que se coloque sempre os Açores à frente do partido, algo que admite que se perdeu nos últimos anos, daí a necessidade de apostar na "matriz social-democrata".
O jovem autarca acha que ainda há mais margem para aprofundar a autonomia no quadro constitucional português, havendo setores como a justiça, saúde e segurança que podem ser melhorados.
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