Em declarações à Lusa sobre este tema, o também conselheiro para a Segurança Nacional e antigo Nobel da Paz considerou que "é preciso prudência e equilíbrio na comunidade internacional sobre a perceção da situação em Myanmar".
Suu Kyi, disse Ramos-Horta, "não tem qualquer poder, baseado na última Constituição, em relação às forças armadas e à polícia de fronteira e imigração, e não é ela que nomeia do chefe do Estado Maior das Forças Armadas nem o ministro da Defesa".
Criticar a líder birmanesa, defendeu Ramos-Horta à Lusa, "é prematuro e não é justo porque ela está sozinha em Myanmar e perante os militares, perante a linha dura dos budistas, dos monges ultranacionalistas, que estão a fomentar o ódio racial religioso lá".
O que é preciso, argumentou, "é identificar os verdadeiros responsáveis do lado do Governo, os militares, e do outro lado, os extremistas dos 'rohingya', mas no meio é o povo inocente que é a maior vítima".
A antiga dissidente birmanesa e Nobel da Paz, acrescentou o agora ministro timorense, "está entre a espada e a parede", porque é criticada pela comunidade internacional, por um lado, por não defender os rohingya, e pelos militares mais radicais, por outro, por não fazer o suficiente contra esta minoria.
Para Ramos-Horta, "em Myanmar há um problema grande que não existiu na África do Sul nem em Timor-Leste, que é esta grande animosidade étnica e religiosa", havendo "mais de 20 grupos armados, cada um deles baseado na etnia".
"É uma situação extremamente complexa de gerir", admitiu Ramos-Horta, que se considera "uma das vozes mais consistentes sobre este tema desde há muito tempo", lembrando que em julho de 1994 ministrou "clandestinamente o primeiro curso de direitos humanos" a todos os grupos envolvidos no conflito.
Segundo a ONU, mais de 379.000 rohingya refugiaram-se no Bangladesh desde finais de agosto para fugir à repressão do exército birmanês, que lançou uma operação militar no oeste do país após uma série de ataques da rebelião rohingya.
O porta-voz não usou o termo rohingya, mas bengali, a palavra normalmente usada na Birmânia, onde se considera que aquela minoria migrou ilegalmente do Bangladesh.
As autoridades da Birmânia, de maioria budista, não reconhecem a cidadania aos rohingya, cerca de um milhão de pessoas, impondo-lhes múltiplas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos.
Suu Kyi, ex-dissidente birmanesa e Nobel da Paz, tem sido criticada por defender a atuação do exército por várias personalidades, entre as quais o dalai lama e os também Nobel da Paz Malala Yousafzai e Desmond Tutu.
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