O juiz do Tribunal Penal Internacional para-a ex-Jugoslávia (TPI-J) considerou hoje que o antigo chefe militar sérvio-bósnio Ratko Mladic quis cometer genocídio em Srebrenica, enclave muçulmano na bósnia onde foram mortos 7.000 homens e rapazes.
Mladic, apelidado de “carniceiro dos Balcãs”, foi julgado por um total de 11 acusações - duas de genocídio, quatro de crimes de guerra e cinco de crimes contra a humanidade – cometidos durante a guerra da Bósnia (1992-1995), entre os quais o massacre de Srebrenica e o cerco da capital Sarajevo.
O julgamento de Mladic é o último grande caso desta instância judicial ‘ad hoc’ da ONU sediada na Holanda, vocacionada para indiciar e condenar os principais responsáveis das guerras interétnicas que destruíram a ex-Jugoslávia entre 1991 e 1999 (Croácia, Bósnia-Herzegovina e Kosovo).
O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos classificou hoje como uma "vitória transcendental" da Justiça a condenação, pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia (TPI-J), do antigo chefe militar sérvio-bósnio Ratko Mladic.
"Mladic é a personificação do diabo e a sentença contra ele é o paradigma do que representa a Justiça internacional", disse em comunicado Zeid Ra'ad al Hussein, que serviu na Força de Proteção da ONU na antiga Jugoslávia entre 1994 e 1996.
O tribunal, que encerra as suas portas no final de dezembro, definiu como principal objetivo “evitar futuros crimes e prestar justiça às milhares de vítimas e suas famílias, contribuindo assim para uma paz duradoura na antiga Jugoslávia”.
Mais de duas décadas após a criação do TPIJ, os países da região permanecem liderados por políticos nacionalistas e divididos ao longo de linhas étnicas, em particular na Bósnia-Herzegovina.
A divisão na região também se reflete na forma como os diversos grupos étnicos abordam o legado do tribunal. Os sérvios, que contam com a larga maioria das acusações e condenações, consideram-no extremamente parcial, enquanto os restantes grupos na ex-Jugoslávia (em particular croatas e muçulmanos bósnios, ou bosníacos) refletem uma abordagem mais positiva.
“Não penso que o tribunal tenha contribuído para a reconciliação, antes contribuiu para piorar a situação”, considerou recentemente a primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabic. “Ninguém poderá afirmar que o tribunal de Haia foi objetivo perante todas as partes do conflito na década de 1990″, acrescentou.
O TPIJ apresentou em 24 anos acusações contra 161 pessoas, desde soldados até importantes responsáveis políticos, policiais ou militares.
Neste período, os magistrados escutaram cerca de 5.000 testemunhos e concretizaram perto de 11.000 sessões para indiciar os diversos acusados de genocídio, crimes de lesa humanidade, violações das leis e costumes da guerra e violência com armas.
Após a sentença de Mladic, o tribunal deverá encerrar em definitivo a sua atividade, prevista para 31 de dezembro, apesar de manter em funcionamento um pequeno setor provisório para analisar os recursos de outros casos.
ONU classifica condenação de Mladic como "vitória transcendental" da justiça
(Nota: Notícia atualizada às 12h20. Corrigida a imagem de destaque)
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