Os reclusos fugiram dos estabelecimentos Penitenciário Especial da Máxima Segurança e Provincial de Maputo, localizados a mais de 14 quilómetros do centro da capital moçambicana, cerca das 13:00 locais (11:00 em Lisboa) do dia 25 de dezembro e foram recapturados em resultados de operações conjuntas entre o Sernap e as Forças de Defesa e Segurança, refere-se numa nota oficial a que a Lusa teve hoje acesso.
“Os reclusos evadidos estavam a cumprir penas por crimes diversos, incluindo ações conexas ao terrorismo, homicídio, roubo, tráfico de drogas e outros delitos graves e as sentenças variam de cinco e 25 anos de prisão. Entre os fugitivos encontram-se indivíduos de alta perigosidade”, lê-se ainda na nota do Sernap, na qual também constam informações e imagens dos reclusos.
“O Sernap apela para colaboração da população, fornecendo qualquer informação que possa ajudar na recaptura dos reclusos”, acrescenta-se no documento.
No mesmo dia em que foram registadas as rebeliões, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, considerou que se tratou de uma ação “premeditada” e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais que, desde outubro, estão na rua protestando contra os resultados das eleições gerais.
“Fazendo barulho, nas suas manifestações, exigindo que pudessem retirar os presos que ali se encontram a cumprir as suas penas”, descreveu Bernardino Rafael, explicando que esta ação provocou “agitação” no interior da cadeia, o que levou ao desabamento de um muro, propiciando a fuga, apesar da “confrontação imediata” com os guardas prisionais.
Segundo dados das autoridades, pelo menos 33 pessoas morreram em resultado da confrontação entre os guardas e os reclusos.
No mesmo dia, prosseguiram as autoridades, rebeliões similares também foram registadas na Cadeia de Manhiça, norte da província de Maputo, em que os manifestantes libertaram os presos, e na Cadeia de Mabalane, onde houve uma tentativa de fuga.
Num direto na rede social Facebook, Venâncio Mondlane, candidato presidencial que lidera, a partir do estrangeiro, a contestação aos resultados eleitorais, rejeitou a tese do envolvimento dos manifestantes, acusando as autoridades de terem propositadamente deixado os reclusos fugir, com o objetivo de manipular as massas e desviar o foco da sociedade.
“Foi tudo propositado. São técnicas de manipulação de massas à moda dos serviços secretos soviéticos (…) para que as pessoas parem de falar na fraude eleitoral. Querem desviar o nosso foco”, declarou Mondlane, acusando também as autoridades de terem “sacrificado” alguns dos reclusos.
Moçambique atravessa desde outubro uma crise pós-eleitoral, com protestos e paralisações que têm culminado em confrontos violentos entre polícia e manifestantes que rejeitam os resultados das eleições de 09 de outubro, com quase 300 mortos e mais de 500 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio aumentou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane – que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos – nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
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