Os signatários do texto que saiu da reunião em Bruxelas convocada pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e pela Bélgica sublinham o seu “compromisso com a energia nuclear” como componente-chave da “estratégia global de redução de emissões” de dióxido de carbono (CO2), respeitando “os mais elevados níveis de segurança e proteção”.
“Comprometemo-nos a trabalhar para desbloquear plenamente o potencial da energia nuclear, tomando medidas como a criação de condições favoráveis para apoiar e financiar de forma competitiva a extensão da vida útil dos reatores nucleares existentes, a construção de novas centrais (…) e o rápido desenvolvimento de reatores avançados”, acrescentam.
A reunião juntou os líderes de França, Hungria, Finlândia, Eslovénia, Polónia e Sérvia e representantes da Argentina, Bangladesh, Brasil, Bulgária, Canadá, China, Egito, Índia, Arábia Saudita, Coreia, Paquistão, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
Ausentes estiveram países como a Bielorrússia, a Ucrânia (país onde fica localizada a maior central nuclear da Europa, Zaporijia) e a Rússia, grande produtor mundial de combustível atómico, além do Irão, que está a desenvolver um controverso programa nuclear encarado com desconfiança pela comunidade internacional.
A energia nuclear, que se tinha tornado uma espécie de tabu em parte da Europa — e sobretudo na Alemanha – depois do acidente na central japonesa de Fukushima, voltou a ganhar força desde 2021, como forma de libertar a União Europeia (UE) da dependência do gás russo.
A questão tornou-se ainda mais relevante depois do corte de relações com Moscovo, na sequência da invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
No início de 2023, a França assumiu-se como a grande defensora desta mudança, com o lançamento de uma “aliança nuclear europeia” que reúne uma dezena de Estados, como a Polónia, a Finlândia, a Suécia, ou a República Checa, e depois com a aprovação de legislação mais flexível que incluiu a energia nuclear nas soluções das renováveis.
A vontade de focar a atenção na energia nuclear foi reforçada na última cimeira climática da ONU, a COP28, realizada no Dubai, onde as partes reconheceram expressamente a “energia nuclear” entre as soluções climáticas.
“Foram necessárias 28 conferências climáticas das Nações Unidas para reconhecer que a energia nuclear é necessária”, afirmou na altura o diretor-geral da AIEA (agência que integra o sistema da ONU), o argentino Rafael Grossi.
Hoje existem dezenas de projetos para colocar no mercado melhores reatores nucleares modulares, mais pequenos, mais baratos, mais seguros e mais adaptáveis do que as centrais tradicionais.
A energia nuclear continua, no entanto, a ter detratores, especialmente na Europa, com é o caso de países como Alemanha, Noruega, Áustria, Luxemburgo, Dinamarca e Espanha.
Todos estiveram ausentes da reunião de hoje e todos culpam a energia nuclear pelos problemas de segurança ou de gestão de resíduos, além de considerarem que não é uma via mais barata.
A energia nuclear também conta com a oposição de muitos grupos ambientalistas, como recordaram hoje ativistas da Greenpeace à porta da cimeira, com cartazes a criticar o que classificam como “conto de fadas nuclear”.
Ainda assim, Rafael Grossi está convencido que o caminho está a ser feito e não há retrocesso.
“Vemos uma crescente consciência da natureza essencial” da energia nuclear para enfrentar o aquecimento global, afirma o diretor-geral da AIEA.
Apesar das medidas acordadas na cimeira de hoje, falta ainda resolver problemas como o financiamento.
O desenvolvimento de centrais nucleares envolve investimentos de vários milhares de milhões de euros a longo prazo e existem vários projetos recentes com um histórico significativo de atrasos e derrapagens de custos e os Estados já começaram a fazer apelos
“Apoiamos os esforços para facilitar a mobilização de investimentos públicos, quando apropriado, e de investimentos privados para projetos adicionais de energia nuclear”, refere a declaração hoje adotada em Bruxelas.
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