O voto de confiança de Rui Moreira, que acumula o pelouro da Cultura desde que Paulo Cunha e Silva morreu em 2015, foi anunciado no início da reunião desta manhã do executivo municipal, depois de um encontro informal e privado onde foi ouvido o diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes.

Em causa está uma nota de rodapé na qual a escritora critica a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015.

No período antes da ordem do dia, o autarca começou por salientar que o Tiago Guedes foi escolhido por concurso público, "sem peias e intervenções do poder político", classificando o momento vivido naquela estrutura municipal como "idílico".

Moreira, que até aquele momento esteve em silêncio sobre a polémica em torno daquela estrutura municipal, confirmou a versão dos factos contada por Tiago Guedes, relatando a sua intervenção no sucedido.

Segundo o mesmo, alertado por Tiago Guedes sobre a situação, o presidente da autarquia disse que a folha de sala da autoria de Guimarães devia ser publicada, mesmo entendendo todas as lealdades que possam estar em causa.

"Devemos confiar nos portuenses", afirmou, salientando que "provavelmente ninguém era tão amigo do Paulo Cunha e Silva” como ele era.

Moreira considera, contudo, que caso a decisão fosse contrária e o texto tivesse sido publicado, provavelmente a mesma seria também alvo de críticas, alegando que a memória do antigo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, não foi respeitada.

O autarca defendeu, no entanto, que não se deve deixar "alguém pensar que pode apropriar-se do Teatro" ou que este possa “ser um albergue para tudo o que as pessoas querem", sublinhando que aquela estrutura municipal tem uma programação própria e um responsável a quem cabe assumir as suas escolhas, e onde o município nunca se imiscuiu.

"Julgo que temos o teatro mais plural que podíamos ter. julgo que algumas vezes vai mesmo ao limite da nossa tolerância. Algumas vezes, tenho lido críticas, até por parte de deputados municipais que acham que esta ou aquela peça aflora quase os limites da decência. A verdade é que nós temos dado essa liberdade (…) e, julgo, devemos continuar", declarou.

Já o vereador socialista Manuel Pizarro disse que, pese embora não se reveja em nada do que Regina Guimarães disse, a dramaturga tem o direito de o fazer.

Pizarro considera que por mais bem fundamentada que a decisão de não publicar o texto de Regina Guimarães estivesse, esta decisão é de "natureza censória", mesmo que as razões fossem boas, e o próprio até acha que são boas.

O vereador salientou ainda que não se pode confundir uma má decisão com o contexto geral do Teatro Municipal do Porto, cuja agenda considera plural e inclusiva.

Também o vereador do PSD, Álvaro Almeida, considera que Regina Guimarães devia ter tido a liberdade de expressar a sua opinião, ainda que outros discordem dela.

"Há muita coisa que não gosto que aparece no Teatro Rivoli, mas é uma questão de gosto. Mas tem de haver liberdade de programação e, por isso, também acho que a opinião de Regina Guimarães, que não é a minha, devia ter sido publicada", disse.

Já a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, disse que a decisão de não publicar a folha de sala foi um erro que espera que sirva de ensinamento para que situações como esta não se voltem a repetir em nenhuma estrutura municipal.

Na quinta-feira, PS, PSD, CDU e Bloco de Esquerda exigiram um esclarecimento cabal sobre o alegado ato de censura da Direção do Teatro Municipal do Porto, tendo os socialistas pedido para ouvir Tiago Guedes na reunião de câmara de hoje.

Já o PAN defende a abertura de um inquérito interno à atuação da Direção do Teatro Municipal do Porto, acusada de censurar um texto da dramaturga Regina Guimarães.

No dia 03 de fevereiro, a dramaturga Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto de censurar um texto da sua autoria, escrito para integrar a folha de sala do espetáculo “Turismo”, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, que esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Numa primeira reação, na madrugada do dia 04, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância do encenador do espetáculo, e que o mesmo tinha até lhe pedido desculpa.

Contudo, essas declarações foram desmentidas, no próprio dia, pelo encenador do espetáculo Tiago Correia, numa publicação na rede social Facebook, onde acusou o diretor do Teatro Municipal do Porto de "chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder".

(Artigo atualizado às 16:23)