Em declarações ao coletivo de juízes, pela segunda sessão consecutiva no Juízo Central Criminal de Lisboa, Rui Pinto começou por dizer que o email enviado sob o nome Artem Lobuzov “não foi criado especificamente para o contacto com Nélio Lucas”, mas que acabou por ser utilizado somente nessa situação.
“Sinto-me envergonhado por esta situação. Custa-me imenso ler este tipo de emails. Hoje em dia não me reconheço nisto, foi uma trapalhada de todo o tamanho. Infelizmente, isto foi aproveitado pelos críticos para tentarem reduzir os méritos do Football Leaks”, afirmou o principal arguido do processo, que aproveitou o momento para pedir desculpa ao outro arguido, Aníbal Pinto, o advogado que foi envolvido nesta interação com a Doyen.
E continuou: “Foi tudo uma infantilidade, nem imaginava que Nélio Lucas ia responder a isto. Isto começou como uma provocação. Foi feito à revelia dos outros participantes no projeto, que não sabiam de nada. Acabei por lhes contar no final do mês de novembro, fiquei logo envergonhado na altura e hoje ainda tenho mais vergonha. Não me sinto nada confortável a ler isto”.
A responder às perguntas dos juízes sobre esta parte da acusação e o porquê de ter estabelecido este contacto com o CEO da Doyen apenas três dias depois de lançar a plataforma eletrónica, Rui Pinto vincou que queria apenas mostrar a Nélio Lucas o tipo de documentação a que tinha acesso. “Estava a ‘dar-lhe música’ para o apertar um bocadinho”, resumiu.
“Nunca devia ter acontecido, mas a verdade é que aconteceu. Ele foi respondendo e as coisas foram escalando”, considerou, assegurando aos juízes que sugeriu “aleatoriamente” o valor entre 500 mil euros e um milhão de euros para resolver a questão da informação da Doyen: “Já que Nélio Lucas me deu conversa no início, queria ver até onde ia chegar. Foi o valor que me veio à cabeça naquele momento”.
Sobre o possível encontro pessoal com Nélio Lucas, o arguido revelou que essa intenção foi espoletada pelas informações que encontrou sobre o FC Porto e a revolta que disse ter sentido por ver o clube do qual é adepto envolvido com a Doyen em práticas que reprovava. “
“Na minha ingenuidade não fazia a mínima ideia que o FC Porto tinha este tipo de práticas e, como adepto portista, senti-me traído. O facto de ser adepto do FC Porto e ver-me confrontado com esta situação feriu-me. Nunca pensei que haveria um desvio de fundos a serem entregues ao filho do presidente [Alexandre Pinto da Costa]. Nem queria acreditar”, sublinhou.
Rui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto de 2020, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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