“Às vezes dizemos apenas ‘bom dia’, sem apertar as mãos”, por conta do novo coronavírus, disse à Lusa, Manuel Weta, líder da aldeia de Zembe, que tenta agora transmitir as medidas que ouve pelo rádio, de casa em casa, uma vez que reuniões coletivas foram limitadas.
As novas medidas, incluindo a observação da distância recomendada pelas autoridades de saúde em todo mundo para prevenir a transmissão do novo coronavírus, continuam a ser desafiadas pelas condições sociais do local.
Até pronunciar de forma correta o nome da doença é um desafio.
A aldeia, com quintais dispersos e minúsculas palhotas de argila e capim, com pouca ventilação, tem os residentes reunidos no único riacho para lavar os utensílios domésticos, a roupa e tomar banho, sem observar distâncias.
O único centro de saúde local não tem aparelhos de medição de temperatura, nem ventiladores, e os pacientes fazem filas compactas, com dezenas de pessoas, que lavam mãos em água misturada com cloro, à chegada, num balde improvisado na entrada do recinto.
O mesmo acontece no mercado local.
“Nas casas estamos a dizer que todas as manhãs é preciso lavar as mãos. Mesmo as crianças de férias não podem andar de qualquer maneira ou sair daqui para outras províncias”, explica Manuel Weta, adiantando ter sido disponibilizada uma ‘linha verde’ do hospital distrital para ligações telefónicas em caso de emergência.
Maria Patreque, uma profetiza da aldeia, diz à Lusa que se surpreendeu quando ouviu falar do novo coronavírus, da interrupção de aulas e das restantes restrições nos hábitos de saudação dos habitantes.
Surpresa, mas segue à risca as recomendações.
“Está difícil, sentimos dor com isso”, precisou Maria Patreque, adiantando que cumpre as recomendações de ter a casa e as crianças limpas e o uso de sabão, cinza e cloro para a higiene familiar.
“Sabão e cinza não tem faltado em minha casa, porque fomos ditos para usar isso para prevenção do novo coronavírus”, disse a mulher em língua local, shiute.
Quer ver a doença desaparecer depressa ou a ter cura: “estamos todos com o coração nas mãos” acrescentou.
Já Cecília Chanana, uma anciã da aldeia, nunca tinha ouvido falar de uma doença que abala o mundo inteiro de repente e de uma só vez e conta à Lusa que isso lhe tira sossego pelos numerosos netos, que receia que não consigam cumprir as medidas de prevenção.
“Não sei se isso é o fim do mundo. Não saberíamos nos prevenir com tudo o que é dito para sefazer”, disse à Lusa Cecília Chanana, que ficou sem pilhas no rádio para acompanhar a evolução da doença em Moçambique.
Hoje ela limita-se a varrer o quintal e a lavar as mãos com cinza e sabão, as mesmas medidas que implementou quando a aldeia foi invadida por um surto de cólera há vários anos.
Obriga os netos a fazer o mesmo, quando regressam da horta, depois de espantarem macacos e lavarem roupas no riacho.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de meio milhão pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Dos casos de infeção, pelo menos 112.200 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com quase 300 mil infetados e perto de 20 mil mortos, é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais.
O continente africano registou até sexta-feira 73 mortes devido ao novo coronavírus, ultrapassando os 2.800 casos, em 46 países.
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