Questionado sobre se aceitará os resultados das eleições presidenciais americanas, que terão lugar no próximo dia 8 de novembro, o candidato republicano, Donald Trump, não assumiu esse compromisso, que é um dos princípios básicos da democracia na América e no mundo. "Na altura, logo verei", foi a resposta que deu a Chris Wallace, o jornalista da Fox News escolhido para moderar o terceiro e último debate entre Donald Trump e Hillary Clinton. Uma resposta em linha com a posição que Trump tem assumido publicamente nos últimos dias, em que insiste que as eleições estão a ser "manipuladas" com o objetivo de garantir a vitória da sua adversária. Para Trump, a imprensa é um dos problemas mais graves nestas eleições: "a imprensa é tão desonesta e tão corrupta (...) envenenaram a mente dos eleitores. Felizmente, acho que os eleitores estão a ver mais além".
Hillary Clinton indignou-se com estas invetivas e afirmou sentir-se "horrorizada" por ter diante dela um adversário numa campanha eleitoral que não acredita no sistema eleitoral. "Vamos ser claros sobre o que ele está a dizer e o que isso significa. [Ele] está a denegrir e a levar a nossa democracia para o fundo. Sinto-me horrorizada que alguém que seja candidato por um dos dois maiores partidos do país adote uma posição como esta", atacou Hillary. "Esta não é a forma como nossa democracia funciona", declarou, sublinhando que os candidatos "aceitam os resultados, mesmo quando não lhes agrada. É o que devemos esperar de qualquer um que esteja nesse debate".
Perante a insistência do moderador sobre se aceitará os resultados, em caso de derrota, Trump voltou a responder de forma lacónica: "vou mantê-lo em suspense, ok?".
"Isto é assustador", retorquiu Hillary.
Trump usou de seguida declarações do ex-adversário de Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata, o senador Bernie Sanders, e do seu chefe de campanha John Podesta, para acentuar as críticas ao que designa como "má avaliação" que a adversária faz de vários temas. Hillary rebateu: "deveria perguntar a Bernie Sanders quem é que ele apoia". E continuou: "ele [Bernie Sanders] disse que você é a pessoa mais perigosa para disputar a Presidência na história moderna da América. E eu acho que ele está certo", completou, encerrando um duro debate sobre a adequação e a capacidade de cada um para servir como presidente.
Aborto, armas e acusações de provocação
A questão do aborto e as denúncias de abuso sexual contra Donald Trump agitaram também este último debate que decorreu em Las Vegas, Nevada. O arranque foi feito com a discussão sobre o Supremo Tribunal com Hillary e Trump a exporem as suas diferenças em relação aos juízes que serão escolhidos pelo futuro presidente. Trump procurou tranquilizar a base mais conservadora do seu partido, garantindo que indicará juízes pró-vida (contra o aborto) e que se oponham a maior controlo sobre a posse de armas. Aproveitou e agradeceu à National Riffle Association (NRA) - o principal lobby de armas do país - pelo apoio à sua campanha.
Hillary rebateu criticando o Congresso de maioria republicana por impedir o presidente Barack Obama de tentar preencher o lugar atualmente vago no Supremo Tribunal. Sobre o aborto, a democrata garantiu que vai "defender o direito das mulheres no sentido de poderem tomar as suas próprias decisões de cuidados de saúde". "Não acho que deva ser o governo dos Estados Unidos a tomar essa decisão", sublinhou. "Esta eleição é sobre o tipo de país que seremos", afirmou Clinton, acrescentando que os direitos da comunidade gay e das mulheres não devem ser reduzidos.
"Se forem atrás do que a Hillary defende, pode-se pegar num bebé e tirá-lo do útero da mãe pouco antes do nascimento", disse Trump. Ao que Hillary respondeu: "usar esse tipo de retórica do medo é apenas terrivelmente infeliz". "Essa é uma das piores escolhas possíveis que qualquer mulher e a sua família têm de fazer", insistiu Trump, referindo-se ao aborto.
Sobre os assédios sexuais de que tem sido acusado, Donald Trump acusou Hillary e a sua equipa de criar e promover as denúncias que várias mulheres têm tornado públicas. "Acho que ela incitou essas pessoas a dar um passo em frente", disse Trump, apontando o dedo a Hillary, acusando-a de organizar "uma campanha suja" baseada em denúncias que são "mentiras"."Não conheço essas pessoas, mas tenho uma ideia de onde vêm (essas denúncias)", afirmou, referindo-se às alegadas vítimas. Trump insistiu ainda que há evidências de que grupos ligados à candidata democrata contrataram provocadores para agitarem e interromperem os seus comícios de campanha. "Eles contratam gente. Pagam 1500 dólares, e está gravado como lhes dizem para serem violentos, provocarem confrontos", afirmou.
"Nunca vi Putin. Não é meu amigo"
A discussão sobre política externa foi marcada pelos temas que têm sido recorrentes nos debates: Síria, Iraque, relações com a Rússia. Hillary afirmou que Donald Trump é uma "marionete" do presidente russo, Vladimir Putin. Trump respondeu que terá melhores relações com Moscovo, porque, afirmou referindo-se a Hillary, "Putin, de tudo que eu vejo, não tem qualquer respeito por esta pessoa". Irónica, a democrata respondeu: "bom, isso é porque ele prefere ter uma marionete como presidente dos Estados Unidos".
A ex-secretária de Estado indicou que "17 agências americanas de serviços de informações" responsabilizaram a Rússia por "hackear" e-mails americanos e passar essa informação para a plataforma WikiLeaks. "Eles hackearam sites americanos, contas americanas de e-mail de pessoas privadas, de instituições", referiu. "Deram essa informação ao WikiLeaks com o objetivo de colocar na internet", denunciou. Ao ser desafiado por Hillary a condenar a iniciativa russa, Trump afirmou que, embora condenasse as invasões de e-mails, "[ela] não tem ideia se foi a Rússia, ou China, ou alguém mais". Trump também minimizou a importância dos relatórios dos serviços de informações. "O nosso país não tem ideia", disse ele. E acrescentou: "nunca vi Putin. Não é meu amigo". Ainda assim, rematou, "se a Rússia e os Estados Unidos se derem bem, isso seria bom".
E claro que se falou de imigração
O plano de Donald Trump de implementar uma deportação em massa de milhões de imigrantes em situação irregular "dividirá o país", atacou Hillary Clinton. "Não quero separar famílias dos seus filhos. E não quero ver a força dedicada a deportar, da que Trump fala, em ação no nosso país", declarou. Segundo Hillary, se essa iniciativa fosse aplicada, o país teria de sair em busca de imigrantes "escola por escola, casa por casa, loja por loja".
Trump defendeu os seus planos, alegando que existem "hombres maus" no país que deveriam ser devolvidos aos seus países de origem. O republicano lembrou que o próprio presidente Barack Obama manteve um volume constante de deportações diárias. "O que eu quero dizer é que o presidente Obama já deportou milhões e milhões de pessoas. Ela (Hillary) não quer mencionar isso, mas é o que acontece", completou.
As últimas sondagens colocam a ex-secretária de Estado com uma vantagem de pelo menos 6,5 pontos percentuais em relação ao candidato republicano.
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