A primeira aparição de Spicer diante das câmaras foi tudo menos amena: discutia efusivamente o número de pessoas que estivera na cerimónia de tomada de posse de Donald Trump. 182 dias depois, abandona o lugar atrás do púlpito da sala de conferências da Casa Branca.
Foi colecionando deslizes, frases insólitas e momentos caricatos. Durante uma das conferências, o pin que usa na lapela, com a bandeira dos Estados Unidos, estava de pernas para o ar (sinal usado para passar mensagens de emergência). Os jornalistas alertaram-no. Ele ajeitou-a. Ficou na mesma de pernas para o ar (até o ajeitar novamente).
A maior audiência e ponto final
Voltemos, ao primeiro dia de Donald Trump como presidente. 21 de janeiro de 2017. Sean Spicer, assessor de imprensa, surge visivelmente irritado a dizer que “as fotografias da cerimónia de tomada de posse foram intencionalmente enquadradas de forma a minimizar o apoio que se reuniu” nos jardins diante da cerimónia. “Esta foi a maior audiência que alguma vez testemunhou uma tomada de posse - ponto final.”, dispara Spicer.
Uma das justificações apresentadas tinha a ver com a utilização inédita de lonas para proteger o relvado. Mais tarde, todavia, provou-se que essas afirmações não eram as mais corretas.
Em sua defesa, Kellyanne Conway, uma das conselheiras de Donald Trump dizia que Spicer estava apenas a usar “factos alternativos”, cunhando o termo que não descola da administração Trump e da cena política em geral. São os #Spicerfacts (factos de Spicer). “Por vezes podemos discordar dos factos”, dizia Spicer diante das evidências de que “a maior audiência e ponto final”, não era assim tão grande.
Partilhar notícias falsas
A administração Trump e a rede social Twitter são duas realidades indissociáveis desta governação norte-americana. Sean Spicer, porém, teve um problema quando partilhou, precisamente no Twitter, um vídeo do site satírico de notícias falsas “The Onion” que dizia que “o papel de Sean Spicer na administração Trump será o de dar aos americanos desinformação robusta e claramente articulada”.
A mensagem, que muitos questionam se terá realmente sido lida por Spicer, vinha acompanhada da frase: “Acertaram. Ponto final!”.
A proibição não é uma proibição
Quando foi anunciada a travel ban, ou seja, a proibição de cidadãos de determinados países muçulmanos entrarem nos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente, usava o termo ban (de banir). Para Spicer, porém, Trump “só [estava] a usar a palavra que os media [usavam]”, porque na realidade de Spicer não era uma proibição.
Hitler não usou armas químicas
Falava-se dos ataques químicos na Síria, alegadamente levados a cabo a mando do próprio presidente sírio. Sean Spicer reprovava a atuação de Bashar al-Assad dizendo que “nem alguém tão terrível como Hitler usou armas químicas”. Clarificou que estava a falar do gás sarin que, explicava, Hitler não usara contra o seu próprio povo.
Depois do encontro com os jornalistas, Spicer enviou-lhes uma mensagem por correio eletrónico, em que garantiu: “De forma alguma, procurei diminuir a natureza horrorosa do Holocausto. Estava a tentar distinguir entre a tática de usar aviões para lançar armas químicas sobre centros populacionais. Qualquer ataque a pessoas inocentes é repreensível e indesculpável”.
Para de abanar a cabeça
April Ryan, jornalista norte-americana, queria saber como ia a administração Trump recuperar a sua reputação. Spicer não gostou da descrição que April estava a fazer da Casa Branca e acusava-a de estar a impingir uma agenda. E acrescenta: “Peço desculpa, por favor para de abanar a cabeça”, quando a jornalista reagiu, baixando a cabeça.
A atitude de Spicer foi criticada um pouco por todo o lado. Hillary Clinton, adversária de Trump nas presidenciais do ano passado, saiu em defesa da jornalista, considerando ser injusto Sean Spicer estar a dar ordens a uma “mulher adulta”.
Jornalistas banidos das conferências de imprensa
Conta o New York Times, um dos órgãos de comunicação social impedidos de entrar, em fevereiro, numa conferência de imprensa, que os assistentes de Spicer escolheram a dedo os jornalistas para assistir ao briefing. A Casa Branca, no local, respondeu dizendo que apenas estes repórteres tinham a sua presença confirmada.
Os jornalistas do New York Times, CNN, Politico, BuzzFeed, BBC, Los Angeles Times, The Hill, New York Daily News e Daily Mail foram impedidos de assistir à conferência marcada por Spicer.
Escondido nos arbustos
Sem saber o que dizer aos jornalistas após a demissão do diretor do FBI, a 11 de maio, Spicer ter-se-á escondido nos arbustos. Nos, não, entre os arbustos, veio o porta-voz da Casa Branca corrigir: não se escondeu dentro dos arbustos, mas entre eles.
A informação fora avançada pelo Washington Post e levou a sátiras e até a um adereço de jardim com a cara de Spicer para adornar os arbustos norte-americanos.
Covfefe
“O presidente e um pequeno grupo de pessoas sabem exatamente o que [Trump] queria dizer”, disse Sean Spicer numa conferência áudio a 31 de maio, depois de Donald Trump ter publicado um tweet com a enigmática palavra “covfefe”, que não tem (não tinha) qualquer significado na língua inglesa.
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