O acordo ficou inviabilizado porque Sérgio Conceição e o seu advogado, Pedro Henriques, queriam que a declaração do embaixador contivesse a expressão exata "pedido de desculpas", o que o embaixador e o seu advogado, Magalhães e Silva, rejeitaram.
Magalhães e Silva defendia que uma declaração do seu cliente assentasse apenas na admissão de que se excedeu na expressão usada e que lamentava a mágoa que causou a Sérgio Conceição.
A tentativa gorada de acordo foi fomentada pela própria juíza do processo, antes de iniciado o julgamento no tribunal criminal do Bolhão, no Porto, na tarde de hoje.
Em causa está a expressão “javardo”, usada pelo antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus e embaixador na ONU na rede social Twitter, em março 2019, para classificar Sérgio Conceição, num rótulo estendido aos adeptos do FC Porto "que se reveem no seu estilo".
"Como o são os adeptos do (meu) Sporting que gostam do Bruno de Carvalho", acrescentou o diplomata.
Face à "indignação ‘azul'" gerada pelo ‘post', publicado após um jogo entre Sporting de Braga e FC Porto, Seixas da Costa recorreu ao seu blogue "Duas ou Três Coisas" (https://duas-ou-tres.blogspot.com/2019/03/indignacao.html), no último dia de março de 2019, para admitir que exagerara na linguagem usada.
"Não me custa reconhecer que os termos não terão sido os mais felizes", escreveu, numa posição que o embaixador reiterou hoje em audiência.
Mas, perante o tribunal, desvalorizou também o sentido pejorativo da expressão "javardo", limitando-se a equipará-la a "grosseiro" ou "mal-educado".
"Ė um vocábulo forte, mas não ofensivo", acrescentou.
Ainda assim, o FC Porto, através da sua sociedade anónima desportiva para o futebol, reagiu repudiando "veementemente" a afirmação e Sérgio Conceição avançou para a justiça, constituindo-se assistente no processo.
Ainda na sessão de julgamento de hoje, Seixas da Costa disse fazer "uma avaliação positiva de Sérgio Conceição como treinador" e que neste caso está apenas em causa "uma cultura de permanente excesso", em declarações públicas.
O advogado de Sérgio Conceição perguntou ao diplomata como reagiria se o apelidassem de "javardo", ao que Seixas da Costa retorquiu: "Espere aí, mas eu não sou".
Já Sérgio Conceição disse que na altura dos factos não associou os considerandos do embaixador a qualquer situação concreta, tendo sublinhado a forma "impactante" como a expressão 'mexeu' sua vida pessoal.
"Senti a expressão como um ataque à minha pessoa. Para mim, foi grave, daí a minha queixa", declarou ao tribunal.
E acrescentou: "Se fosse eu, pedia desculpa e estava o caso arrumado. Não me tirava dignidade nenhuma pedir desculpa".
O julgamento prossegue no dia 01 de abril, às 14:00, com audição das testemunhas de acusação.
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