Após reunião decorrida esta quinta-feira com o futuro chefe de Estado na residência deste no Rio de Janeiro, o juiz disse estar "honrado" com o convite — que aceitou.
Figura de proa da operação Lava Jato, que fez tremer os políticos de todos os espetros, é, sobretudo, o vilão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso a poucos passos do seu escritório em Curitiba.
Em julho de 2017, Moro condenou o líder da esquerda brasileira a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Uma condenação confirmada em segunda instância e uma sentença consequentemente ampliada para 12 anos e um mês em janeiro, e que Lula começou a cumprir em abril.
Diante de um vasto sistema de desvio de fundos da Petrobras, o juiz não hesitou em mandar para a prisão quase todos os ex-diretores do grupo, intocáveis das finanças e da política. Tanto eram de esquerda, centro e direita, como não usufruíam de foro privilegiado graças aos seus cargos ministeriais ou legislativos.
Duelo em pessoa
Lula da Silva — que Jair Bolsonaro disse querer que "apodreça na prisão" — tornou-se a sua maior presa.
O interrogatório ao qual submeteu Lula em maio de 2017 foi um confronto entre dois universos que, no Brasil, parecem completamente distantes entre si: o que está saturado pela corrupção e o que está indignado pela miséria.
"Senhor ex-presidente, eu queria deixar claro que, embora existam algumas alegações nesse sentido, da minha parte não tem qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente. Quem vai definir o resultado [do julgamento] são as provas e a lei", afirmou Moro, antes de iniciar o interrogatório do fundador do Partido dos Trabalhadores (PT).
Quando questionado se se sentia responsável pelo esquema montado na Petrobras, Lula respondeu: "doutor Moro, o senhor se sente responsável de a Operação 'Lava Jato' ter destruído a indústria da construção civil nesse país? O senhor se sente responsável por 600 milhões de pessoas [sic] que perderam emprego no setor de óleo e gás e da construção civil? Eu tenho certeza que não".
Após ser condenado como proprietário de um triplex oferecido pela construtora OAS para ganhar licitações na petroleira, Lula afirmou: «o juiz Sérgio Moro, refém dos media, estava condenado a me condenar. Os procuradores, presas de uma megalomania, asseguram que o Partido dos Trabalhadores queria o poder para roubar», disse.
A frieza com que este Dom Quixote da justiça encurralou os poderosos a partir de Curitiba, a mais de mil quilómetros de Brasília, despertou os temores do ícone da esquerda latino-americana, mesmo antes deste episódio.
«Sinceramente, tenho medo desta República de Curitiba. Porque com um juiz de primeira instância, tudo pode acontecer neste país», disse Lula numa conversa telefónica intercetada pelo juiz.
Inspirado pela Itália
Sérgio Moro nasceu há 45 anos na cidade paranaense de Maringá, e ali se formou em Direito, tornando-se juiz em 1996. Doutor e professor universitário, completou a sua formação na respeitada Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Admirado por muitos de seus pares, é definido como sendo um juiz preparado, rápido e decidido. Por seu turno, os seus detratores consideram-no abusivo no uso das prisões preventivas.
Fascinado por decifrar os caminhos do dinheiro sujo, o astro da Justiça brasileira sentiu desde sempre um fascínio pela histórica Operação "Mani Pulite" ("Mãos Limpas"), que desarticulou a complexa rede de corrupção que dominava a Itália nos anos 1990.
A imagem de um juiz preocupado com um mundo mais justo ficou manchada este ano, quando justificou um polémico subsídio (auxílio-moradia) que todos os magistrados recebem, embora morem em casas que são suas nas cidades em que trabalham.
Esse subsídio, declarou, "compensa a falta de reajuste dos vencimentos desde o 1º de janeiro de 2015".
Moro é casado com Rosângela Wolff, fervorosa defensora do seu marido nas redes sociais, com quem tem dois filhos.
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