A CNN Portugal e TVI revelaram esta quinta-feira imagens de uma investigação que data de 2019, quando a Polícia Judiciária apreendeu os telemóveis a cinco militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes, no concelho de Odemira, por suspeita de alegados maus-tratos a imigrantes, e encontrou nesses mesmos dispositivos imagens, filmadas por um dos próprios militares, de sequestro, torturas, humilhações, violência e insultos racistas a vários trabalhadores agrícolas daquela região.

Segundo consta no trabalho divulgado, que cita o processo judicial a que teve acesso e que até agora era desconhecido do domínio público, as vítimas são provenientes do sul da Ásia, a maioria do Bangladesh, do Nepal ou do Paquistão.

As imagens dos vídeos foram filmadas, numa primeira instância, na rua e mostram sete militares fardados a montar emboscadas a pretexto de falsas operações stop, de fiscalização de trânsito, acabando por levar os imigrantes para o posto onde ocorreram as agressões e humilhações.

Um dos vídeos mostra mesmo um dos imigrantes a ser torturado com gás pimenta que os militares da GNR obrigaram a inalar pela boca e pelo nariz através do tubo do aparelho de medição de taxa de alcoolemia, normalmente conhecido como “teste do balão”.

A vítima, em sofrimento, pede água, em inglês, os militares recusam, riem-se e dizem: "É gás pimenta, ó animal. Filho de uma grande puta! Animal!".

Após analisar as provas recolhidas, num despacho de acusação de 10 de novembro deste ano e ao qual a CNN Portugal e a TVI tiveram acesso, o Ministério Público concluiu que os militares praticaram as ações: "em manifesto uso excessivo de poder de autoridade que o cargo de militar lhes confere" e que "todos os arguidos agiram com satisfação e desprezo pelos indivíduos".

A procuradoria conclui ainda que a razão dos ataques e humilhações acontece por "ódio claramente dirigido às nacionalidades que tinham e apenas por tal facto e por saberem que, por tal circunstância, eram alvos fáceis".

Segundo os dois canais, o comandante do posto de Vila Nova de Milfontes foi chamado à investigação e, pelas vozes e imagens, identificou sete dos seus subordinados. Estão acusados de um total de 33 crimes, entre os quais sequestro, ofensas à integridade física qualificada e abuso de poder.

Das vítimas identificadas nas imagens, uma já morreu, num acidente, e outras terão saído do país.