Visentini, que em 15 de dezembro abandonou o seu cargo de secretário-geral da Confederação sindical internacional (CSI, Ituc, na sigla em inglês), explicou ter recebido “uma oferta de pelo menos 50.000 euros” por parte da organização não-governamental (ONG) Fight Impunity, dirigida pelo seu compatriota e antigo eurodeputado Pier Antonio Panzeri.
Panzeri é considerado um dos principais suspeitos do escândalo de corrupção conhecido como ‘Qatargate’.
Entre as seis pessoas detidas em Bruxelas em 09 de dezembro (incluindo Visentini, que seria libertado sob condições dois dias mais tarde) no âmbito da investigação conduzida pelas autoridades belgas, Panzeri é um dos três suspeitos que está atualmente em prisão preventiva, juntamente com a ex-vice-presidente do Parlamento Europeu (PE) e eurodeputada grega Eva Kaili.
Numa referência à “oferta em espécie” recebida da Fight Impunity, uma organização de combate à violação dos direitos humanos, Visentini sublinhou, num comunicado, ter aceitado “devido à qualidade do doador e ao seu caráter não lucrativo”.
“Não me perguntaram nada e também não perguntei nada em troca do dinheiro e não foi colocada qualquer condição pela entrega desta doação”, assegurou.
“Esta doação não estava ligada a qualquer tentativa de corrupção, nem para influenciar a minha posição sindical sobre o Qatar ou qualquer outra questão, nem se destinava a interferir com a autonomia e independência da minha pessoal e/ou da CIS”, prosseguiu o italiano de 53 anos.
Segundo explicou, uma parte do dinheiro foi utilizado para reembolsar certas despesas no âmbito da sua campanha para assumir a liderança da CSI.
Visentini foi eleito em novembro para a liderança desta organização que diz federar 338 sindicatos em todo o mundo, em 168 países e territórios.
O Conselho geral da CSI deve reunir na quarta-feira para decidir sobre a manutenção ou o afastamento de Visentini.
Numa referência ao Qatar, que visitou recentemente, o italiano assegurou que a sua posição “não evoluiu com o tempo”.
“Sempre afirmei claramente que a atual situação ainda não era satisfatória e era necessária mais pressão sobre o Qatar e as empresas instaladas no país para garantir as normas exigidas pela OIT [Organização Internacional do Trabalho] em termos de proteção dos direitos dos trabalhadores”, prosseguiu no mesmo comunicado.
O inquérito iniciado no verão de 2022 pela justiça belga relaciona-se com suspeitas de importantes somas em dinheiro disponibilizadas pelo Qatar para influenciar a política europeia.
O ex-comissário europeu Dimitris Avramopoulos, numa declaração na segunda-feira à agência noticiosa estatal grega Ana, indicou ter recebido 60.000 euros de “indemnização” da ONG Fight Impunity.
Este político grego pertencia ao conselho de administração honorário desta ONG, antes de se demitir em 11 de dezembro na sequência das revelações.
A Comissão Europeia indicou, entretanto, que está averiguar a conduta do ex-comissário.
O escândalo do ‘Qatargate’ está a abalar as instituições europeias e a presidente do PE, Roberta Metsola, reafirmou, na segunda-feira, que haverá “tolerância zero à corrupção” na instituição, tendo já prometido na semana passada, numa intervenção no hemiciclo, reformas nesse sentido.
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