O caso do concelho de Odemira, que vê o número de infeções por covid-19 aumentar devido às condições em que vivem muitos dos trabalhadores migrantes das explorações agrícolas, não é o único do género no país. Da terra para a água, a situação pode vir a repetir-se entre os mariscadores do Tejo, conta o jornal Público numa reportagem.
A situação não é nova: quando a maré baixa, grupos de mariscadores dedicados à recolha dos bivalves, maioritariamente compostos por pessoas de diferentes nacionalidades, com escassos recursos económicos, atua à margem da lei e apanha amêijoa japonesa, considerada imprópria para consumo conforme a zona de apanha.
Todavia, tudo por ser agravado com a pandemia, já que estas pessoas também não vivem com as condições sanitárias necessárias, muitas delas habitando em grandes grupos em habitações. De acordo com o jornal, "esta situação é uma espécie de bomba relógio, já que um eventual surto de covid-19 rapidamente se poderá alastrar a toda a comunidade".
Segundo um estudo de 2016, existiam nessa altura cerca de 1.700 mariscadores, cerca de 1.500 ilegais, que retiravam do estuário do Tejo 19 mil quilos de amêijoa por dia. E, ao longo dos anos, muitas têm sido as apreensões de bivalves pelas forças policiais.
Ao jornal, o Ministério do Mar garantiu que tem realizado "acções de sensibilização sobre a monitorização e a salubridade dos bivalves, junto dos apanhadores bem como das entidades que asseguram o controlo e fiscalização, e tem participado em várias acções de fiscalização, com as demais entidades com competências para actuar na situação em apreço".
Quanto à situação em que vivem os migrantes, o Ministério frisou que "todos os operadores do setor da pesca, independentemente da nacionalidade, [têm assegurados] equipamentos de protecção individual e testes à covid-19". Contudo, o problema está na questão da legalidade: muitos não pertencem ao setor e não querem contacto com as autoridades. Desta forma, diz o jornal que estas pessoas "não foram alvo de qualquer tipo de acção ou de testes".
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