“Após o choque e surpresa com esta machadada na viabilidade do Jornal de Notícias, é necessário expor as implicações diretas e práticas de uma decisão que não tem cobertura legal, que configura uma clara ingerência na linha editorial do jornal, segundo a Lei de Imprensa, e que, na verdade, é matar o JN”, apontou o CR, em comunicado.
Aquele órgão esteve reunido de urgência, no sábado, para abordar “uma ordem da Comissão Executiva (CE) do Global Media Group (GMG) de suspender todas as ‘prestações de serviços’ do JN, a partir de dia 01 de janeiro”, com pouco mais de 24 horas de antecedência.
O CR apontou que a suspensão de todas as prestações de serviço, os chamados “recibos verdes”, significa, na prática, “calar todos os colaboradores do JN, de Norte a Sul do País, da Cultura ao Desporto”.
A avançar, esta decisão representaria, para o CR, “uma mudança na identidade do Jornal de Notícias que só poderia ocorrer com a alteração do Estatuto Editorial, que, como o nome indica, é da exclusiva responsabilidade da direção editorial, nunca de uma administração”.
Defendendo que esta decisão não tem cobertura legal, “por ser uma clara ingerência editorial”, o CR decidiu instar a Comissão Executiva a explicar ao jornal e aos seus trabalhadores “esta ordem impensável e lesiva para o JN, os leitores e o próprio país”, lembrando ainda que o CR tem competência e dever de vigilância que lhe permite avançar com participação ou queixa na Entidade Reguladora da Comunicação (ERC).
“Retirar a já escassa e precária mão de obra nas regiões é, a curtíssimo prazo, matar a produção de notícias de proximidade, aniquilar o ADN do Jornal de Notícias, que não se pode dar ao luxo de abdicar do oxigénio que representam os colaboradores e a visão que trazem das suas regiões”, destacou aquela entidade.
Os representantes dos trabalhadores do GMG tinham já tornado público, em audições no parlamento, que a administração andava a tentar impor um contrato aos prestadores de serviços, que, conforme afirmou o CR do JN, “em muitas alíneas não só bordeja os limites da lei como os ultrapassa”.
As redações do Diário de Notícias (DN), JN, TSF e O Jogo aprovaram, na sexta-feira, a realização de uma greve no dia 10 de janeiro de 2024, depois de, na quinta-feira, a administração do grupo ter informado os trabalhadores de que não tem condições para pagar os salários referentes a dezembro, afirmando que a situação financeira é “extremamente grave”.
Também na quinta-feira, o Governo manifestou perplexidade com as dificuldades financeiras alegadas pelo GMG, lembrando a intenção de “investimento no jornalismo” do novo acionista, quando este entrou no grupo.
O grupo anunciou recentemente a intenção de despedir até 200 trabalhadores.
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