"A primeira coisa que fiz foi ligar para o encenador Tiago Correia, e perguntei ao encenador se ele estava confortável com os conteúdos que estava a veicular para a folha de sala. Não tanto o texto da Regina Guimarães, mas uma nota de rodapé que não é acerca do seu espetáculo, mas é acerca do vereador da Cultura que faleceu e que ainda para mais é chamado de mentiroso e ignorante", explicou em declarações à Lusa.
Segundo Tiago Guedes, o encenador e diretor da companhia "pediu cinco minutos para falar com a sua equipa", tendo ligado pouco depois a pedir desculpa, dando-lhe razão e concordando com a não publicação da nota.
"Acho que o diretor do Teatro Municipal do Porto tem o direito de impedir que tal nota seja publicada numa folha de sala sobre um espetáculo. A Regina Guimarães não pode usar uma folha de sala de um espetáculo para veicular informação que ela legitimamente pode achar, mas não o pode fazer na folha de sala de um espetáculo", defendeu.
O texto em causa, escrito para integrar a folha de sala - que não chegou a existir - do espetáculo TURISMO, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia e que subiu ao palco nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro no Teatro do Campo Alegre, no Porto, continha uma nota de rodapé no qual a escritora criticava a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador que morreu em 2015.
Na referida nota, a escritora, que acusou hoje a Direção do Teatro Municipal do Porto de censura, afirmou que o antigo vereador da Cultura da Câmara do Porto Paulo Cunha e Silva inundou os portuenses "de discursos delirantes acerca da 'cidade líquida inspirada em Zygmunt Bauman', no intuito de legitimar teoricamente as escolhas políticas na sua área de atuação, positivando, por ignorância ou descarada mentira, uma noção que, para o sociólogo inventor do conceito, consubstancia o horror contemporâneo da perda de laços".
E acrescentou que "significativamente, o erro - propositado ou involuntário - de Paulo Cunha e Silva - nunca foi publicamente denunciado pelos sociólogos da cidade e da sua academia".
"Quem lê esta nota [de rodapé], alguém que tenha o mínimo de decência não acha normal chamar mentiroso e ignorante ao antigo vereador da Cultura do Porto que já morreu. Achei que devia falar porque Rui Moreira que além de ser presidente de Câmara é o atual vereador da Cultura. É o meu superior", afirmou Tiago Guedes, dizendo-se "escandalizado" com o conteúdo da mesma.
De acordo com o responsável, apesar de o presidente da autarquia ter dito que "se aquele era o texto que a companhia queria", devia ser publicado, como diretor do Teatro Municipal do Porto entendeu não o fazer, até porque havia já um entendimento com o diretor da companhia de teatro no sentido de não publicar a folha de sala.
"E a folha de sala não foi publicada", acrescentou, rejeitando qualquer ato de censura.
O texto que Regina Guimarães disse ter sido censurado integrava também o livro homónimo, editado pelas Edições Húmus e cuja venda no Teatro do Campo Alegre foi igualmente proibida, pelas mesmas razões já apontadas por Tiago Guedes.
"Por uma questão de coerência, se não há uma coisa, não há outra, porque os conteúdos são os mesmos", frisou.
Na segunda-feira, a escritora Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto de ter censurado um texto da sua autoria no qual criticava a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador que morreu em 2015.
De acordo com escritora, o texto em causa aborda a questão da "turistificação" e da noção de cidade líquida, retificando o conceito que "foi apregoado pela cidade durante anos", mas "não é um texto contra a Câmara Municipal do Porto".
"Isto não cabe na cabeça de ninguém. Isto é um precedente muito grave, porque é evidente que a Câmara é um elemento importantíssimo na vida cultural portuense. Isto é um pau de dois bicos, porque obviamente que eles fizeram a diferença toda ao tomarem em mãos um estado da cidade que era de grande desertificação cultural, mas ao mesmo tempo eles não podem arrogar-se de ser donos da criação, do pensamento e das opiniões", defendeu Regina Guimarães.
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