Em comunicado, o Sindicato dos Trabalhadores de Call Center (STCC) esclarece estarem abrangidos pelo pré-aviso de greve todos os trabalhadores do ‘call center’ de Setúbal e os que, através da Teleperformance, trabalham para a Barclaycard.
Segundo adianta, na manhã de segunda-feira os trabalhadores vão concentrar-se à porta das instalações da empresa, em Setúbal, após o que se irão deslocar à sede da empresa, em Entrecampos, no edifício Marconi, para se manifestarem e exigirem “que a empresa abandone a sua intransigência e se abra ao diálogo”.
É que, sustenta o sindicato, até hoje a Teleperformance — que descreve como “a maior empresa de ‘call centers’ do país, empregando um total de cerca de 7.500 trabalhadores — “não se dignou a receber o sindicato e os trabalhadores para dialogar”.
Contactada pela agência Lusa, a administração da Teleperformance diz que “a primeira referência do sindicato” a aumentos salariais aconteceu em 16 de janeiro, quando o STCC “enviou uma carta a exigir um aumento de 35% do salário fixo de 18 colaboradores afetos a um projeto em concreto, a que se somaria uma melhoria no plano de incentivos”.
“Dois dos colaboradores tinham um contrato com o nosso parceiro Emprecede e manifestaram a vontade de assinar contrato com a Teleperformance Portugal, pedido que foi aceite de imediato”, esclareceu o diretor-geral numa nota escrita enviada à Lusa, acrescentando que, “apesar de todas as explicações e da imediata concessão da Teleperformance em integrar os dois referidos colaboradores nos seus quadros, o sindicato decidiu, ainda assim, convocar de imediato uma greve dos 18 colaboradores, a ocorrer no espaço de uma semana”.
Segundo o sindicato, para além de um aumento do salário base para 750 euros e de um “plano de incentivos justo”, os trabalhadores “querem também ser contratados diretamente” pela Teleperformance, já que esta é a “empresa para a qual e em cujas instalações trabalham”, e não “através de uma empresa de trabalho temporário ‘fantasma'”.
De acordo com o STCC, “nos últimos anos a empresa tem tido lucros na casa dos 10 milhões de euros e um volume de negócios superior a 100 milhões”, mas “a maioria dos trabalhadores, sobretudo aqueles que trabalham na língua portuguesa [a empresa tem várias linhas estrangeiras], recebe o salário mínimo nacional”.
“Recentemente, na revista interna da empresa, o CEO [presidente do Conselho Executivo], Eng.º João Cardoso, afirmou que nos últimos 10 anos a Teleperformance cresceu 30% ao ano e que 2016 foi um ano de ‘maior crescimento ainda’. Porém, afirma que a empresa não tem dinheiro para subir salários e tem-se recusado sequer a reunir com os trabalhadores”, argumenta o sindicato.
Relativamente a este argumento do sindicato, o diretor-geral João Cardoso diz ter sido “explicado” ao STCC “que a empresa é composta por 7.600″ colaboradores e que, se dividido por todos esse lucro, “isso resultaria em 76 euros por mês por colega (aproximadamente 51 euros líquidos por mês)”, um valor “muitíssimo inferior ao que é exigido pelo sindicato” e que mesmo assim significaria que “a empresa passaria a entrar em prejuízo”.
“O equilíbrio financeiro é a variável que determina a existência e a continuidade da Teleperformance Portugal, nomeadamente os 7.600 postos de trabalho. O ajustamento de salários pedido iria tornar o projeto deficitário, gerar prejuízos e obrigar a um ajuste da operação em termos de recursos humanos, para tornar a operação sustentável. Além disso, constituiria um motivo de discriminação para com os restantes 7.582 profissionais da nossa empresa”, sustenta.
A administração da Teleperformance destaca ainda que “a empresa tem vindo a investir anualmente no seu crescimento um montante idêntico aos lucros”, sendo que “sem isso não teria sido um dos maiores criadores de emprego em Portugal ao longo dos últimos anos, nem seria hoje um dos maiores e melhores empregadores nacionais”.
“Procuramos atrair elevado talento, oferecendo o máximo possível a todos os colegas, dentro das condicionantes do mercado. A remuneração oferecida a cada um dos nossos colaboradores é sempre, no mínimo, 20% superior ao estipulado pela legislação referente ao salário mínimo nacional”, afirma João Cardoso, acrescentando que “a empresa assegura ainda um seguro de saúde, igual para todos os colaboradores e administradores”.
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