“Os partidos políticos recusam participar, tal como grandes centrais sindicais, portanto não há essa capacidade de reunir a sociedade que é indispensável para transformar a presidência de Macron numa presidência de diálogo e concertação. É muito complicado ter confiança no futuro deste conselho”, disse Jean Garrigues, historiador e presidente do Comité de História Parlamentar, em declarações à Agência Lusa.

Desde logo, a esquerda que concorreu sob a coligação Nova União Popular Ecológica e Social nas legislativas recusou participar, mas também a direita como Os Republicanos ou a União Nacional, de Marine Le Pen, disseram não a este novo organismo. Do lado dos sindicatos, tanto a Force Ouvrière como a CGT rejeitaram também sentar-se à mesa com o Governo. Uma das recusas mais polémicas foi Gérard Larcher, presidente do Senado e terceira figura do Estado francês.

Muitas destas recusas devem-se ao facto de tanto a oposição como os sindicatos considerarem que já existem instituições como o Parlamento ou o Conselho Económico, Social e Ambiental onde diferentes atores contribuem para o diálogo em França.

“O problema é que esta ideia surge após cinco anos em que Macron tentou várias iniciativas deste género. E o que constatamos é que essas iniciativas não deram resultados concretos e não mudaram a maneira de governar de Emmanuel Macron, logo há um grande ceticismo em relação a esta nova estrutura”, explica Jean Garrigues.

A ideia da criação desta iniciativa aconteceu em junho, no pós-eleições presidenciais, e inspira-se no Conselho Nacional da Resistência criado em 1943 durante a ocupação alemã e que após a saída dos nazis apresentou um programa de renovação social em França que marcaria a segunda metade do século XX no país.

Assim, nesta quinta-feira, na região de Essone, na região parisiense, o Presidente vai receber sobretudo as autoridades regionais, os líderes das instituições intermédias e associações da cidade civil de forma a pensar como a França vai lidar com cinco desafios cruciais nos próximos anos: saúde, educação, emprego, envelhecimento da população e transição ecológica.

“Há uma guerra económica, com o problema do poder de compra, a crise energética que vemos a aparecer no horizonte, com transformações profundas que temos de levar a cabo como aconteceu com o Conselho Nacional da Resistência com o seu programa de 1944. Há uma espécie de recriação do Estado providência que tem de ser levado a cabo em 2022”, indicou Jean Garrigues.

Para Emmanuel Macron, segundo fonte oficial do Eliseu disse aos jornalistas, a vontade de Emmanuel Macron é de “colocar estes temas na mesa e fazer com que cada um possa também intervir”, tendo em conta as expectativas e as propostas, esperando que saia desta primeira reunião “uma dinâmica” que permita levar a cabo reformas importantes para o país.

Jean Garrigues alerta para que a criação desta instituição não pode falhar já que isso colocaria Emmanuel Macron numa posição de fragilidade face à oposição e à opinião pública.

“Se falhar, será mais um falhanço e vai aparecer como um género de golpe político e isso vem reforçar a ideia de um Presidente superficial e que só governa através de golpes de comunicação. Mostra também que ele não é capaz de federar à volta dele as diferentes forças políticas e isso é um sinal de fragilidade”, concluiu.