“Por volta da meia-noite estávamos na Casa do Tio [um bar], quando o arguido empurrou um indivíduo para cima de mim. Depois foram para a rua, onde começaram a lutar e o arguido acabou por se ir embora”, relatou Alice Reis, que se encontrava nas Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita, no distrito de Setúbal, na noite de 15 de setembro.
Na altura do conflito, a vítima, Açucena Patrícia, não se encontrava presente, mas chegou momentos depois, tendo permanecido na rua à conversa com amigas e conhecidas, como era o caso de Alice Reis, que não se apercebeu da aproximação do veículo por estar de costas.
Seguiu-se um “momento desesperante”, segundo a testemunha, em que Abel Fragoso, de 21 anos, embateu num grupo de seis pessoas numa rua fechada ao trânsito, tendo provocado a morte de Açucena Patrícia, de 17 anos, e ferimentos em outros cinco jovens, alguns dos quais tiveram que receber tratamento hospitalar.
Foi no momento em que os militares da GNR retiraram o arguido da viatura que Alice Reis teve a primeira impressão de que se tratava da mesma pessoa que, momentos antes, tinha estado à luta com outro homem.
“No dia seguinte vi fotografias dele nas redes sociais e foi aí que tive a certeza de que era a mesma pessoa”, frisou.
Esta foi a terceira sessão do julgamento em que testemunharam várias vítimas que ficaram feridas neste atropelamento, das quais quatro eram amigas ou conhecidas de Açucena Patrícia. Nenhum dos ouvidos conhecia o arguido, Abel Fragoso.
A jovem Frederica também presenciou a “briga entre dois rapazes” e referiu que um deles se foi embora, depois de uma “luta a sério”, contudo, não conseguiu precisar se o homem que estava dentro do carro era o mesmo que momentos antes tinha estado envolvido no conflito.
“A Açucena tinha chegado e conversei uns cinco minutos com ela, estava a contar-me o que tinha feito no aniversário e passado alguns minutos veio o carro e atropelou-nos. O carro bateu-me na perna e braço do lado esquerdo. Caí e fiquei inconsciente e quando acordei a Açucena estava quase em cima de mim cheia de sangue”, relatou, muito emocionada.
Também Fábio Rodrigues estava a atravessar a rua naquela noite com a namorada, quando olhou para a esquerda e viu a viatura, que “vinha numa velocidade fora do normal”, acabando por levar uma pancada do lado direito.
Já Jorgete Daniel, que ficou presa na parte da frente da viatura, afirmou que teve a sensação de o condutor “tentar andar para a frente”, devido a um “solavanco” e ao barulho do motor, o que “felizmente não aconteceu, porque senão havia mais vítimas”.
Na primeira sessão do julgamento, em 14 de outubro, o automobilista, que está acusado de um crime de homicídio consumado e mais de uma dezena de crimes de homicídio na forma tentada, tinha dito que o sucedido se devia apenas à sua inexperiência.
No entanto, na segunda audiência, em 16 de outubro, esta tese foi refutada pelo testemunho dos militares da GNR que asseguravam o patrulhamento naquela noite, que afirmaram que tiveram de fugir para não serem atropelados pelo jovem.
Também no primeiro interrogatório judicial, o condutor admitiu que tinha agido na sequência de um desentendimento com um grupo de pessoas do Vale da Amoreira (Moita). Acabou, no entanto, por atingir um outro grupo de pessoas com a sua viatura, provocando uma vítima mortal.
Esta tarde, pelas 14:00, prossegue o julgamento para ouvir as testemunhas de defesa.
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