“Desde Dharamsala [norte da Índia, sede das autoridades tibetanas no exílio], o governo e o parlamento no exílio, as associações tibetanas, as associações de jovens, as associações de mulheres, todos os tibetanos estão solidários com o desejo pacífico dos ativistas de Hong Kong”, afirmou em entrevista à agência Lusa o monge budista que esteve hoje em Lisboa no âmbito de um périplo por cerca de 30 países europeus.
“Todos aqueles que se expressam através de meios e de fins pacíficos de manifestação, desde que sejam assim, iremos apoiar”, reforçou Thubten Wangchen, que desde 2011 é membro do parlamento tibetano no exílio.
Thubten Wangchen não esconde o seu receio em relação a uma eventual intervenção mais musculada por parte das forças chinesas contra os protestos de Hong Kong, alertando para o perigo dos ativistas, maioritariamente jovens, cederem à emoção.
“Espero que isso não aconteça, mas nunca sabemos. Se o governo chinês não procurar agora uma solução, os jovens chineses em Hong Kong podem tornar-se ainda mais emocionais, mais zangados. E tudo tem um limite. Se eles ultrapassarem o limite, poderá ocorrer violência e aí será tarde de mais”, referiu o representante, defendendo a via “de um diálogo realizado frente-a-frente” e “da procura de uma solução pacífica”.
“Deixo esta mensagem (…) aos jovens, aos estudantes, por favor continuem com a vossa luta, com a vossa coragem, exijam os vossos direitos, mas nunca usem, por favor, a violência e armas contra os militares chineses, contra o governo chinês”, destacou.
A viver há vários em Barcelona, Thubten Wangchen disse que quando aborda a causa tibetana, “a defesa de uma autonomia genuína da China”, não se esquece das realidades que marcam regiões como Hong Kong, Mongólia e Taiwan ou as diversas minorias presentes no território chinês, caso da etnia muçulmana uigure, maioritária no Xinjiang, vasta região no noroeste da China.
“Hong Kong também não está a pedir a independência. Eles aceitam a China, mas querem mais democracia, mais liberdade, mais direitos humanos. O mesmo que Taiwan. (…) As expectativas do Tibete, Taiwan e Hong Kong são muito similares”, indicou.
Hong Kong, antiga colónia britânica, está a atravessar a sua pior crise política desde a sua transferência para as autoridades chinesas em 1997.
Nos últimos três meses, o território tem sido palco de manifestações quase diárias que muitas vezes têm degenerado em confrontos entre as forças policiais e ativistas mais radicais.
Iniciada em junho contra um projeto-lei de alteração, entretanto suspenso, à lei da extradição (que visava permitir extradições para Pequim), a contestação nas ruas generalizou-se e ampliou as suas reivindicações, denunciando agora o que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” e uma ingerência da China nos assuntos internos daquele território.
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