O jornalista do Wall Street Journal, Evan Gershkovich , de 32 anos, deverá cumprir a sentença a que foi condenado pelo tribunal russo numa colónia penitenciária de "regime fechado", segundo ordem do juiz Andrei Mineyev.
De pé, numa cabine de vidro, de onde assistiu ao seu julgamento a portas fechadas, Gershkovich não reagiu ao ouvir a sentença. Vestido com calças escuras e uma camisa, acenou com a mão aos seus colegas jornalistas enquanto os agentes o levavam.
Gershkovich foi detido quando fazia uma reportagem nesta cidade da região dos Urais no final de março de 2023.
A justiça russa acusou-o de reunir informações sensíveis para a CIA sobre um dos principais fabricantes de armas da Rússia, Uralvagonzavod, que produz os tanques T-90 usados na Ucrânia.
"Esta vergonhosa e falsa condenação acontece depois de Evan ter passado 478 dias na prisão, detido injustamente, longe da sua família e amigos, impedido de informar, tudo por fazer o seu trabalho como jornalista", afirmaram o editor do Wall Street Journal, Almar Latour, e a editora-chefe Emma Tucker num comunicado.
A organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) equiparou a sentença a uma "tomada de refém" e pediu a libertação imediata de Gershkovich.
A ONU assinalou que a condenação "traz sérias preocupações sobre o direito à liberdade de expressão como jornalista".
Biden trabalha pela libertação e as promessas de Trump
O governo dos Estados Unidos considera que a detenção tem como objetivo utilizar o jornalista numa possível troca de prisioneiros, num momento de grande tensão entre Moscovo e Washington devido ao conflito na Ucrânia.
"Trabalhamos incansavelmente pela libertação de Evan e continuaremos a fazê-lo", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, num comunicado.
Por outro lado, o seu adversário nas eleições presidenciais, Donald Trump, aproveitou a sentença para criticar o atual dirigente.
"Biden nunca vai libertá-lo, a menos que pague um 'resgate'", escreveu Trump na sua rede social, Truth Social. "Eu vou tirá-lo de lá sem compensação, imediatamente depois da nossa vitória em 5 de novembro", frisou.
A prisão do jornalista norte-americano em março de 2023 provocou uma grande onda de solidariedade nos media internacionais e indignação nos ministérios das Relações Exteriores de países do Ocidente.
Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, chamou a condenação do repórter de "desprezível", enquanto a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, a designou como "parte da propaganda de guerra de [Vladimir] Putin".
A presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola, denunciou o que classificou de "julgamento simulado", uma "antítese da justiça".
“A deriva repressiva do regime russo continua a intensificar-se”, lamentou Christophe Lemoine, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, num comunicado de imprensa, sublinhando que a França está “muito preocupada com as restrições cada vez maiores à liberdade de expressão, à liberdade de informar e ao acesso a informações independentes na Rússia”.
Paris pede a Moscovo “para que respeite os direitos e liberdades fundamentais em conformidade com os compromissos internacionais da Rússia”.
No exílio, a ativista opositora russa e viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, criticou o veredicto "injusto" na rede X.
A audiência desta sexta-feira foi a terceira desde o início do julgamento em 26 de junho.
A segunda audiência, prevista inicialmente para agosto, foi antecipada para quinta-feira a pedido da defesa.
Normalmente, os julgamentos por acusações semelhantes na Rússia duram várias semanas ou até meses.
Quem é Gershkovich
Gershkovich é o primeiro jornalista ocidental acusado de espionagem na Rússia desde o período soviético.
A Rússia admitiu que negocia sua libertação e o presidente do país, Vladimir Putin, chegou a mencionar o caso de Vadim Krasikov, preso na Alemanha por um assassinato encomendado pelos serviços especiais russos.
O repórter americano, filho de imigrantes que fugiram da União Soviética para os Estados Unidos, mudou-se para a Rússia em 2017.
No final de junho, a Casa Branca denunciou que o julgamento era uma "farsa" e insistiu em que o repórter "nunca trabalhou para o governo" americano.
Pouco depois, um painel de especialistas da ONU declarou que a detenção era arbitrária e pediu sua libertação sem demora.
No primeiro dia de julgamento, em 26 de junho, o jornalista apareceu com a cabeça raspada e sorridente na cabine de vidro reservada aos acusados.
Embora não pudesse falar, fez sinais para as pessoas que conhecia dentro do tribunal.
Só consegue se comunicar com a família e amigos por meio de cartas lidas e censuradas pela administração da penitenciária. Nas correspondências, o jornalista afirma que continua de bom humor e que estava resignado com uma possível condenação.
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