"Naturalmente que olhamos não com resignação, mas com a certeza de que a refinaria continua a fazer falta ao país", disse hoje à Lusa o representante dos trabalhadores, no dia em que a Galp anunciou que a demolição da refinaria de Matosinhos (distrito do Porto) começará na segunda-feira.
De acordo com o presidente da CCT da Petrogal, "todos os indicadores" por si detidos apontam nesse sentido, dizendo que "o encerramento da refinaria trouxe um prejuízo para o país que até já foi quantificado em 1,6% do crescimento económico em 2022, por exemplo".
O responsável criticou ainda o "despedimento de trabalhadores" e o "rasto de destruição social que foi deixado pelo encerramento da refinaria".
Relativamente à comunicação sobre o processo de demolição da refinaria, Hélder Guerreiro disse que "não houve nada" até ao dia de hoje, em que foi anunciado que o processo durará até dois anos e meio.
"Não houve reuniões específicas relativamente a este processo, nem nos deram qualquer informação, apesar de já termos solicitado há tempo o plano de desmantelamento, e tudo o que tinha a ver com o desmantelamento da refinaria", disse Hélder Guerreiro à Lusa.
Questionado sobre se foram apanhados de surpresa com a informação, o presidente da CCT disse que não porque não andam "a dormir", tendo-se deslocado hoje ao Porto por sua conta, participando numa "iniciativa [que serviu] como uma sessão de esclarecimento e também de anúncio do início do desmantelamento na próxima segunda-feira".
De acordo com a empresa liderada por Filipe Silva, "para a preparação para o arranque dos trabalhos de demolição foram efetuados contactos e reuniões com todos os 'stakeholders' [envolvidos] direta e indiretamente impactados ou envolvidos neste projeto".
O comunicado da Galp refere o Governo, a Câmara de Matosinhos, entidades reguladoras e licenciadoras, proteção civil e autoridades locais, bem como moradores e associações comerciais, mas não os trabalhadores ou ex-trabalhadores da refinaria.
Mais tarde, fonte da Galp disse à Lusa que a empresa enviou hoje uma comunicação interna aos trabalhadores e realizou uma sessão presencial também hoje, em Matosinhos.
"Nesses encontros foram apresentadas as linhas gerais do projeto de demolição e respetivo calendário, bem como as medidas que a empresa vai implementar para monitorizar, controlar e mitigar possíveis constrangimentos pontuais que possam ser suscitados na sequência dos trabalhos em curso", refere a empresa.
A Galp lançou ainda um 'site' com o endereço matosinhos.galp.com, para consulta das medidas de mitigação, com vista a "disponibilizar e atualizar as informações relativas ao decurso dos trabalhos de demolição".
O encerramento da refinaria foi comunicado pela Galp em dezembro de 2020 e concretizado no ano seguinte, num processo muito criticado pelas estruturas sindicais.
Em maio de 2021, a Galp deu início a um despedimento coletivo de cerca de 150 trabalhadores da refinaria, chegando a acordo com 40% dos cerca de 400 colaboradores.
A petrolífera justificou a decisão de encerramento desta refinaria com o contexto europeu e mundial da refinação, com os desafios da sustentabilidade e com as características das instalações.
Em fevereiro, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) disse à Lusa que uma parcela do terreno da antiga refinaria da Galp em Matosinhos que a empresa pretendia ceder à câmara para a Cidade da Inovação tinha os solos e as águas subterrâneas contaminadas.
A Galp adiantou que era “expectável” que os terrenos onde funcionou a refinaria tenham de ser “objeto de remediação”.
Este ano foi anunciada a instalação de um Centro Internacional de Biotecnologia Azul no local, que contará ainda com a colaboração da Fundação Oceano Azul, depois de ter sido anunciada uma cidade da inovação ligada às "energias do futuro".
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