"O autocarro limita as pessoas às estações, e é assim, tendo em conta o local de trabalho que é a zona industrial, aqui não passa qualquer autocarro, o metro fica afastado da minha residência, tenho dois filhos pequenos que os tenho que deixar no infantário, não vou conseguir estar a fazer todo esse percurso para chegar aqui às oito e meia da manhã a horas", disse à Lusa Pedro Moura, trabalhador na Rolporto.
O homem de 40 anos falava acompanhado por cerca de duas dezenas de trabalhadores da zona industrial na rua Engenheiro Ferreira Dias, que não é servida por autocarros mas tem as estações de metro do Viso e Ramalde nas traseiras, além de ser paralela à Rua Manuel Pinto de Azevedo, que já é servida pela Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), pelas linhas 503 e 201.
Questionado se o carro continua a ser o modo de transporte mais viável para as tarefas pessoais e familiares, Pedro Moura confirmou, "até porque fica mais benéfico e mais barato do que os transportes".
"Teria que pagar três passes, ou o passe de família que eventualmente possa existir [existe], e sujeitar-me a andar à chuva, com as crianças e tudo, quando eu, por um depósito de combustível por mês, consigo fazer esse serviço", argumentou.
Segundo Pedro Moura, com a instalação dos parquímetros, a despesa mensal com estacionamento no seu local de trabalho ascenderia aos 70 euros.
Já José Correia, reformado de 66 anos que, em 2015, lutou contra a instalação de parquímetros na zona, disse à Lusa que os trabalhadores vêm de zonas fora do Porto, onde "não há hipótese nenhuma se não tiverem carro para vir trabalhar".
"O autocarro é uma lengalenga. Porque o autocarro é de meia em meia hora, [andam] cheios, super cheios, e às vezes nem aparecem a horas. O metro de facto é aqui atrás, mas as pessoas pensam que o metro vai resolver todos os problemas, mas não resolve, nestas situações não resolve", considerou.
A vereadora da CDU na Câmara do Porto, Ilda Figueiredo, compareceu e considerou que o problema da instalação dos parquímetros "não pode avançar da forma que a Câmara está a fazê-lo", sendo "necessário enquadrar a questão do estacionamento pago numa visão integrada da mobilidade na cidade", mas também "em toda a zona envolvente, na própria área metropolitana", defendendo ainda que o município, "antes de medidas deste tipo, deve construir parques dissuasores" próximos do metro ou da rede da STCP.
"Como é que se podem retirar carros da VCI [Via de Cintura Interna] se não tivermos transportes públicos adequados para assegurar a estes trabalhadores, que vêm de Santo Tirso, de Ermesinde [Valongo], de diferentes zonas, e têm dificuldade de transporte, e precisam de sair duas horas mais cedo de casa e chegar a casa duas horas mais tarde, na situação atual, em que não existe essa coordenação de transportes?", questionou.
A CDU já tinha apresentado uma recomendação ao executivo municipal no sentido de manter a zona industrial livre de parquímetros.
A Lusa ouviu ainda relatos de trabalhadores que, caso usassem o transporte público, os horários das escolas não estariam adequados a ir buscar os filhos, o que leva as pessoas a optar pelo automóvel.
No dia 12, o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, Pedro Baganha, disse que a cobrança avançaria este mês, reconhecendo que a medida “não é simpática”, mas que “é necessária” e se insere “no esforço de gestão e organização do espaço público”.
“Há duas estações de metro e um conjunto de linhas de autocarro que servem este território”, referiu o vereador à margem da reunião privada do executivo.
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