
Hoje, as escolas e a universidade de Tripoli permaneceram fechadas, assim como Mitiga, o único aeroporto que serve a capital. Muitas lojas também estavam fechadas, à exceção de algumas mercearias afastadas das principais vias da cidade, segundo a agência noticiosa France-Presse (AFP).
Os confrontos no coração da capital líbia eclodiram na segunda-feira à noite, após a morte do líder do grupo armado SSA (Stability Support Authority), Abdelghani “Gheniwa” el-Kikli, cujo poder se tinha tornado uma ameaça para o chefe do governo de Tripoli, Abdelhamid Dbeibah, segundo os analistas.
Os combates prosseguiram até terça-feira entre as forças da SSA e os grupos leais a Dbeibah, causando a morte de pelo menos seis pessoas, segundo dados oficiais.
Na quarta-feira, o Governo de Unidade Nacional (GUN) da Líbia, liderado por Dbeibah, confirmou o início de um cessar-fogo alcançado com as milícias envolvidas nos combates para restaurar a calma na capital.
O Ministério da Defesa do GUN, que mobilizou tropas, exortou todas as partes a “respeitarem plenamente o cessar-fogo e a absterem-se de declarações provocatórias ou de qualquer movimento no terreno que possa reacender as tensões”.
Apesar da cessação dos confrontos, os apoiantes da SSA advertiram, num comunicado divulgado antes do amanhecer de hoje, que a morte do seu líder “só reforça a determinação em perseguir implacavelmente os envolvidos, onde quer que estejam”.
Segundo a sua família, “Gheniwa” foi morto a tiro numa “emboscada” quando se dirigia a um quartel pertencente a um grupo leal ao governo, a Brigada 444.
Assolada por lutas fratricidas desde a queda e morte do ditador Muammar Kadhafi, em 2011, a Líbia é governada por dois executivos rivais: o de Dbeibah, no oeste e reconhecido pela ONU, e outro no leste, que tem como figura forte o marechal Khalifa Haftar.
Referindo-se à morte de “Gheniwa” e à fuga dos principais aliados, Dbeibah falou de um “passo decisivo para a eliminação dos grupos milicianos e para a criação do princípio de que, na Líbia, não há lugar para nada para além das instituições do Estado”.
Para os especialistas, Dbeibah está a tentar recuperar o controlo após anos de tolerância por parte do seu governo em relação à miríade de grupos armados que partilham Tripoli e as suas principais instituições.
Num sinal de tensões contínuas, os residentes do distrito de Abu Salim (a sul de Tripoli), um reduto da SSA, foram alvo de fogo na quarta-feira à noite, mas sem vítimas.
De terça-feira até ao final da tarde de quarta-feira, outros confrontos violentos opuseram um poderoso grupo armado chamado Radaa, que o primeiro-ministro dissolveu, à Brigada 444, ligada ao governo de Dbeibah. Também não foram registadas vítimas, mas o Crescente Vermelho Líbio afirmou ter recuperado um corpo de um carro no centro da cidade.
A dissolução do Radaa causou agitação no seu bastião de Souq el-Joumaa (a leste de Tripoli), onde, quarta-feira à noite, uma manifestação reuniu mais de 500 pessoas, que gritaram palavras de ordem pedindo a saída de Dbeibah.
Ao contrário do grupo SSA, cujos dirigentes são procurados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por abusos, o grupo Radaa é relativamente respeitado, apesar de gerir prisões consideradas ilegais. Os seus membros salafistas policiam o tráfico de droga e o terrorismo jihadista.
A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla inglesa) intensificou nos últimos dias os apelos à calma e à proteção de civis, manifestando preocupação com uma “situação que pode rapidamente ficar fora de controlo”.
Pelo menos seis embaixadas, incluindo as dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), manifestaram preocupação pelo clima vivido na capital da Líbia. A Turquia, que apoia Dbeibah, tomou a medida invulgar de apelar a um “cessar-fogo” e ao “diálogo”.
“Se os confrontos minam ou consolidam a autoridade de Dbeibah continua uma questão em aberto”, disse Claudia Gazzini, investigadora do International Crisis Group, citada hoje pela agência AFP.
Para Jalel Harchaoui, outro especialista citado pela agência noticiosa francesa, a situação é a “mais perigosa” dos últimos 14 anos, devido à chegada a Tripoli de reforços de tropas: do oeste para a Radaa e de Misrata (200 quilómetros a leste da capital) para Dbeibah.
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