“Pensamos que todos os problemas com a Grécia podem ser resolvidos pacificamente”, declarou o chefe de Estado turco, em Ancara, durante uma conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro grego, Aléxis Tsipras, mas solicitou “mais cooperação” no caso do pedido de extradição de militares turcos exilados na Grécia e acusados pelas autoridades desenvolvimento no fracassado golpe militar de julho de 2016.
Em reposta, o primeiro-ministro grego congratulou-se pelos canais de comunicação “permanecerem abertos” com Ancara, na etapa inicial de uma deslocação destinada a apaziguar as tensões entre os dois países vizinhos.
“Estou satisfeito ao mais nível que os canais de comunicação permaneçam abertos com Ancara”, declarou, apelando a respeitar as decisões da justiça relacionadas com os pedidos de asilo dos presumíveis soldados golpistas turcos cuja extradição continua a ser exigida por Ancara.
“A Grécia respeita as decisões da justiça, é um princípio constitucional”, precisou Tsipras, cuja última vista à Turquia ocorreu em 2015, apesar de declarar que “na Grécia os golpistas não são bem-vindos”.
O tom das duas declarações foi mais ameno, comparativamente com a visita de Erdogan à Grécia em 2017, a primeira de um Presidente turco em 65 anos. Na ocasião surpreendeu, ao pedir a revisão do Tratado de Lausanne de 1923, que fixa designadamente as fronteiras entre a Grécia e a Turquia.
Tsipras iniciou hoje uma vista oficial de dois dias à Turquia, para abordar com os líderes do país vizinho as relações bilaterais, a situação em Chipre e os fluxos migratórios.
A ilha de Chipre, dividida entre a República de Chipre (internacionalmente reconhecida e de maioria cipriota grega), membro da União Europeia desde 2004, e a autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN, apenas reconhecida por Ancara na sequência da invasão turca de 1974), permanece um dos temas mais complexos nas relações bilaterais.
A situação de Chipre atravessa atualmente um período de tensão, em particular após a descoberta de gigantescas jazidas de gás natural na zona marítima exclusiva, reivindicada pelas duas partes, para além do diferendo em torno da limitação da fronteira marítima no Mar Egeu.
A agenda da reunião entre os dois dirigentes tinha sido confirmada na segunda-feira pelo porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin, que também se referiu às tensões no Mar Egeu e no Mediterrâneo, e às relações mais gerais entre Turquia e Grécia, dois membros da NATO.
Tsipras e Erdogan também abordaram a situação do pacto celebrado entre a Turquia, que acolhe 3,5 milhões de refugiados, e a União Europeia, assinado em março de 2016 e que travou consideravelmente a chegada, a partir das costas turcas, de requerentes de asilo.
No entanto, centenas de pessoas continuam a desembarcar diariamente nas ilhas gregas. Cerca de 5.000 pessoas fizeram-no entre setembro e dezembro, aumentando a pressão sobre os campos de refugiados já superlotados.
O número de travessias na fronteira terrestre entre os dois países também aumentou, passando de 5.400 em 2017 a 14.000 em 2018, segundo Atenas.
Na quarta-feira, Tsipras tem previsto um encontro com Bartolomeu I, arcebispo de Constantinopla e patriarca ecuménico ortodoxo. O encontro decorrerá no seminário de Hali, na ilha de Heybeliada, perto de Istambul, que não recebe uma visita das autoridades gregas há 86 anos.
A Turquia e a Grécia concordaram na reabertura deste seminário ortodoxo, encerrado pelas autoridades turcas desde 1971, a troco da abertura de uma mesquita em Atenas, a capital grega.
Esta visita ocorre simbolicamente alguns dias após o 23.º aniversário de uma grave crise diplomática relacionada com os ilhéus de Imia, para a Grécia (Kardak para os turcos), no cerne de recorrentes tensões bilaterais e que na ocasião quase degeneraram num conflito armado.
Surge ainda 20 anos após o início do processo de reaproximação entre Atenas e Ancara. Após várias décadas de relações tumultuosas, a Grécia enviou em 1999 uma ajuda à Turquia, atingida por um sismo.
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