Cerca das 08:00 (hora local, menos duas em Lisboa), como constatou a Lusa no local, António Costa chegou a Kiev, numa comitiva composta pela Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, e a comissária europeia do Alargamento, Marta Kos, que também iniciam hoje funções no executivo comunitário.

“Neste nosso primeiro dia em funções, eu, a Alta Representante e a comissária responsável pelo Alargamento deslocamo-nos a Kiev para transmitir uma mensagem clara de que defendemos a Ucrânia e de que continuamos a dar todo a nossa ajuda total à Ucrânia - apoio humanitário, financeiro, militar e diplomático -, como temos vindo a fazer desde o primeiro dia desta guerra de agressão [russa]”, disse António Costa à comitiva de jornalistas, incluindo a Lusa, no comboio noturno antes da chegada à capital ucraniana.

“Vamos falar do presente da guerra, mas também sobre o futuro comum europeu, do alargamento da UE, que inclua a integração da Ucrânia na UE”, acrescentou o antigo primeiro-ministro português.

Já Kaja Kallas disse ao pequeno grupo de jornalistas que acompanham a deslocação, incluindo a Lusa, que começar o mandato em Kiev, neste “espírito de equipa europeia”, dá “um sinal importante de que a Ucrânia é um tema para a Europa”.

O antigo primeiro-ministro, António Costa, inicia hoje funções como presidente do Conselho Europeu, num mandato que se estende até 31 de maio de 2027 e no qual pretende tornar a instituição mais eficaz e promover a unidade europeia.

É o primeiro português e o primeiro socialista à frente da instituição.

Garantia de segurança mais forte é pertencer à NATO

A chefe da diplomacia da União Europeia defendeu hoje que “a garantia de segurança mais forte” para proteção da Ucrânia é a adesão à NATO, considerando que cabe às autoridades ucranianas decidir quando e como negociar o cessar-fogo.

“Tenho sido muito clara sobre isto e a garantia de segurança mais forte é a adesão à NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”, declarou a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas.

Kaja Kallas disse que “cabe à Ucrânia dizer quando é que é altura de se sentar à mesa das negociações”. “Mas temos de nos certificar de que eles estão mais fortes quando o fizerem”, acrescentou a responsável, numa alusão ao apoio comunitário às autoridades ucranianas.

“Entre 2014 e 2022, tivemos vários cessar-fogos e o que vimos a Rússia não respeita os termos desses cessar-fogos e que tivemos mais guerras. Claro que todos querem paz e sossego e não queremos bombas, mas precisamos de apoiar a Ucrânia para que eles tenham uma voz forte pois quanto mais fortes forem no campo de batalha, mais fortes serão na mesa de negociações”, sublinhou Kaja Kallas.

Aquela que tem sido uma forte apoiante do suporte da UE à Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país, em fevereiro de 2022, salientou que o Presidente russo, Vladimir Putin, “não mudou os seus objetivos”.

“Se nos sentássemos e disséssemos ‘Muito bem, tomem os territórios que conquistaram’, isso apenas encorajaria o agressor, não só Putin, mas o que vemos é que, além disso, a China está envolvida, […] assim como a Coreia do Norte e o Irão, e que estão a trabalhar em conjunto, pelo que esta é uma questão de segurança”, adiantou Kaja Kallas, nestas declarações feitas no comboio noturno para Kiev à Lusa e outros jornalistas internacionais que acompanham a visita.

Visita acontece após intensos ataques russos

Esta deslocação de alto nível acontece após dias de intensos ataques russos contra infraestruturas críticas da Ucrânia.

Surge também dias depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter afirmado que está preparado para terminar a guerra na Ucrânia em troca da adesão à NATO (das partes não-ocupadas do país), mesmo que a Rússia não devolva imediatamente os territórios apreendidos.

Numa entrevista, o Presidente ucraniano explicou que a adesão à NATO teria de ser oferecida às partes não-ocupadas do país para pôr fim à “fase quente da guerra”, desde que o próprio convite da Aliança Atlântica reconhecesse as fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia.

Zelensky sugeriu que seria possível alcançar um acordo de cessar-fogo se o território ucraniano que Kiev controla fosse colocado “sob a alçada da NATO”, o que lhe permitiria negociar a devolução do restante território posteriormente, “de forma diplomática”, parecendo aceitar que as zonas ocupadas do leste da Ucrânia ficassem, por enquanto, fora desse acordo.

Quando cerca de um quinto do território ucraniano está sob controlo russo, a posição de Zelensky é a de que o território continua a ser ucraniano, que a ocupação russa do território é ilegal e que Kiev não cederá qualquer parte do seu território para obter um acordo de paz.

No início deste ano, apresentou um ‘plano de vitória’ ao parlamento ucraniano, que incluía a recusa de ceder território e soberania da Ucrânia.