Numa conferência de imprensa no final de uma reunião do Conselho de Associação UE-Moldova, em Bruxelas, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, e a chefe do executivo de Chisinau, Natalia Gravinita, foram confrontados com a acusação formulada na passada quinta-feira pelo chefe da diplomacia russa, de que o Ocidente visa transformar a ex-república soviética da Moldova “na próxima Ucrânia”, falando mesmo de planos para integrar o país na NATO ou mesmo ser absorvido pela Roménia.
“É uma pena que o senhor Lavrov, que já foi um diplomata respeitado, prossiga este caminho que o desacredita intelectualmente. Não há nada de sério nestas considerações”, limitou-se a responder Borrell.
Já a chefe de Governo da Moldova comentou que “estas declarações feitas pelo ministro Lavrov são preocupantes e não têm em conta a soberania e independência da República da Moldova”, que, “como qualquer outro país, deve decidir por si própria o seu destino”.
“Os cidadãos moldavos disseram nas urnas qual a orientação que desejam para o nosso país, decidiram o nosso modelo de desenvolvimento, e disseram que querem o caminho europeu. A sua vontade deve ser respeitada e devemos implementar a sua vontade política”, afirmou.
“Nós tudo faremos para preservar paz e estabilidade no nosso país, e acreditamos que tais declarações são contrárias à lei internacional e ao direito da Moldova à autodeterminação”, concluiu.
Josep Borrell iniciou a conferência de imprensa notando que esta foi já a sétima reunião do Conselho de Associação UE-Moldova, mas sublinhando que se revestiu de um simbolismo particular, dado ter sido a primeira não só desde que foi concedido oficial à Moldova o estatuto de país candidato à adesão ao bloco comunitário, mas também a primeira desde que, há praticamente um ano, a Rússia iniciou a agressão militar à Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.
“Apreciamos muito sinceramente a vossa solidariedade incrível com a Ucrânia e o povo ucraniano”, disse, apontando em particular que “a Moldova está a desempenhar papel crucial nos «corredores de solidariedade» da UE, que permite que as exportações agrícolas da Ucrânia e a economia ucraniana alcancem o mercado global”.
“Sem vocês, tal seria muito mais difícil, senão mesmo impossível. Por isso, obrigado”, disse, dirigindo-se à primeira-ministra da Moldova, a quem também agradeceu o acolhimento de dezenas de milhares de refugiados da vizinha Ucrânia.
Gravinita, por seu lado, manifestou a abertura do seu país para continuar a acolher refugiados e garantiu que Chisinau vai “continuar a assegurar o funcionamento dos «corredores de solidariedade» e a prestar ajuda humanitária”, agradecendo por seu lado à UE o apoio prestado sobretudo a nível de abastecimento energético, dado a Moldova ter sido dos países mais afetados pela crise provocada pela guerra na Ucrânia.
Os dois responsáveis manifestaram-se também globalmente satisfeitos com os progressos que a Moldova tem feito a nível das reformas exigidas no quadro do seu processo de adesão à UE, sobretudo a nível do sistema judiciário e do combate à corrupção.
“Sabemos que o processo de integração da União Europeia é intenso, exigente e demorado. Cada país é avaliado em função do seu próprio mérito e progredirá com a sua própria rapidez. Mas posso afirmar com segurança, depois desta reunião, que o futuro da Moldova e dos seus cidadãos está claramente dentro da União Europeia”, concluiu Borrell.
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