Em 20 de setembro de 1979, com a morte do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, José Eduardo Santos, visto então como um tecnocrata com pouco brilho - a que se juntava uma expressão impassível e, por vezes, inescrutável - foi eleito secretário-geral do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), assumindo, no dia seguinte, o cargo de Presidente de Angola e Comandante-Chefe das Forças Armadas Angolanas. Seguiram-se 38 anos no poder — leia aqui o perfil de "Zedu", como muitas vezes era referido em Angola. Aqui, todavia, fica uma cronologia dos principais acontecimentos da vida de José Eduardo dos Santos, que hoje morreu em Barcelona, aos 79 anos.
- 28 de agosto de 1942
José Eduardo dos Santos, filho de Eduardo Avelino dos Santos, pedreiro reformado, e de Jacinta José Paulino, doméstica, nasce no bairro de Sambizanga, em Luanda.
- Inícios da década de 1950
Frequenta o Liceu Nacional Salvador Correia, atual Mutu-ya-Kevela, em Luanda.
- 1956
A fusão de vários grupos dá origem ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Nessa altura, José Eduardo dos Santos teve um papel ativo na organização de grupos clandestinos nos arredores de Luanda, algo que viria a intensificar-se a partir de 1961.
- 1961
José Eduardo dos Santos sai de forma clandestina de Angola e viaja para Leopoldville (atual Brazzaville), no então Congo Belga (atual República do Congo).
- 1962
Acumula as funções de vice-secretário da JMPLA (juventude do MPLA) e de representante do MPLA.
- 1963
José Eduardo dos Santos tem uma breve passagem pela guerrilha na luta contra o colonialismo português.
Nesse mesmo ano recebe uma bolsa de estudo para estudar no Instituto de Gás e Petróleo de Baku, Azerbaijão, na antiga União Soviética, onde se formou como engenheiro industrial (setor petrolífero) em junho de 1969.
Durante a sua formação, joga futebol no Neftchi (Azerbaijão), equipa de futebol da primeira liga soviética.
Após terminar a tese, é enviado para uma academia militar soviética para receber instrução como operador de comunicações militares. A formação fê-lo subir na hierarquia militar do MPLA.
- 1970 a 1974
Assume a chefia do centro de comunicações da Frente Norte e, mais tarde, ocupa o cargo de chefe-adjunto do serviço de comunicações da segunda região político-militar do MPLA, Cabinda. Membro da Comissão Provisória de Reorganização da Frente Norte e chefe dos serviços financeiros do segundo distrito político-militar.
- Setembro de 1975
Por indicação do Presidente Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos foi escolhido para integrar o Comité Central e o Bureau Político do MPLA, na Conferência Inter-Regional do partido que se realiza no Moxico. Passa a coordenador dos departamentos de Relações Públicas e de Saúde e de Relações Exteriores do MPLA.
- 11 de novembro de 1975
Dia da independência de Angola e José Eduardo dos Santos torna-se o primeiro chefe da diplomacia do novo país.
- 1976-1978
Nomeado vice-primeiro-ministro e, a partir de dezembro de 1978, ministro do Plano; a nível partidário, foi secretário do Comité Central do MPLA para diversas áreas, como a Educação, Reconstrução Nacional e Desenvolvimento Económico e Planificação.
- 27 de maio de 1977
José Eduardo dos Santos, nomeado por Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, chefia a comissão de inquérito à alegada tentativa de golpe de Estado conduzida por Nito Alves.
- Dezembro de 1977
No primeiro congresso do agora designado MPLA - Partido do Trabalho, José Eduardo dos Santos manteve-se como membro do Comité Central e do Comité Político.
- 21 de setembro de 1979
Com a morte do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, em 20 de setembro, José Eduardo Santos é eleito secretário-geral do MPLA e assume o cargo de Presidente de Angola e de Comandante-Chefe das Forças Armadas Angolanas.
- 1980
Reunião extraordinária do MPLA, em dezembro, decide continuidade de José Eduardo dos Santos na Presidência; Institucionalizada a Assembleia do Povo, formalmente o órgão máximo do poder do Estado, sob presidência do chefe de Estado.
- 25 de janeiro de 1988
Recebe o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal.
- 31 de maio de 1991
José Eduardo dos Santos, pelo MPLA, assina com Jonas Savimbi, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o Acordo de Bicesse que contemplava um cessar-fogo, a constituição do exército único e realização de eleições gerais, sob a supervisão das Nações Unidas.
- 29 de setembro de 1992
Eleições presidenciais e legislativas. O MPLA ganha com maioria absoluta, com a UNITA em segundo lugar. José Eduardo dos Santos foi o mais votado, com 49%, na primeira volta das presidenciais. Mantém-se em funções, com o processo eleitoral por concluir.
- 02 de outubro de 1992
Savimbi declara as eleições fraudulentas e ameaça regressar à guerra. Duas semanas depois, a ONU valida eleições, considerando-as "genericamente livres e justas".
- 31 de outubro de 1992
Começam confrontos violentos em Luanda, que duram três dias. Vários altos dirigentes da UNITA são mortos, entre os quais o vice-presidente, Jeremias Chitunda, e o chefe da representação do movimento do "Galo Negro" na Comissão Conjunta Político-Militar e sobrinho de Savimbi, Elias Salupeto Pena. A escalada de guerra torna-se incontrolável, refugiando-se a UNITA no Huambo, onde tinha concentrado o quartel-general.
- 19 de maio de 1993
Reconhecimento do Governo angolano pelos Estados Unidos, seguido pela maioria da comunidade internacional.
- 20 de novembro de 1994
Assinatura do protocolo de Lusaca para a desmobilização das tropas do MPLA e da UNITA, formação de um Governo de unidade e de reconciliação nacional.
- 16 de janeiro de 1996
Recebe o Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal.
- 22 de fevereiro de 2002
Morte de Jonas Savimbi. O Governo anuncia que as forças governamentais abateram o líder da UNITA na província do Moxico.
- 04 de abril de 2002
Marcando o fim de 27 anos de guerra civil, assiste no Palácio dos Congressos, em Luanda, à assinatura do acordo geral de Paz no Luena, entre o general Abreu Muengo Ucuachitembo "Kamorteiro" (UNITA) e o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas, general Armando da Cruz Neto, na presença do corpo diplomático, líderes religiosos e personalidades da sociedade civil.
- Fevereiro de 2007
Anuncia a realização de eleições legislativas em 2008 e presidenciais em 2009.
- 05 de agosto de 2008
Eleições legislativas em Angola, naquela que é a primeira consulta popular após o fim da guerra civil. José Eduardo dos Santos é indicado para Presidente pelo MPLA, que obteve 82% dos votos, que valeram 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional.
- Março de 2009
Encontra-se com Bento XVI em Luanda, durante a visita do papa ao país.
- 27 de janeiro de 2010
Adoção de nova Constituição, que consagra o regime presidencialista. O Presidente passa a ser o cabeça-de-lista do partido mais votado no círculo nacional, em eleições gerais, passando a ser eleito por via indireta.
- Março de 2011
Mais de 20 mil pessoas participam numa manifestação de apoio a José Eduardo dos Santos em resposta a protestos inéditos contra o regime.
- 31 de agosto de 2012
O MPLA, liderado por José Eduardo dos Santos, vence as eleições gerais com 72% dos votos.
- 23 de agosto de 2017
MPLA vence eleições gerais de 2017 com 61% dos votos, permitindo a nomeação de João Lourenço como terceiro Presidente da República de Angola desde a independência. No mês seguinte, José Eduardo dos Santos deixa o poder.
- 2019
José Eduardo dos Santos passa a viver na cidade catalã de Barcelona, para realizar com maior facilidade tratamentos no Centro Médico Teknon, uma das melhores unidades hospitalares europeias na valência de oncologia, que já tratava o ex-Presidente angolano há cerca de oito anos – a partir da altura em que esta unidade catalã foi recomendada a José Eduardo dos Santos por especialistas brasileiros no Rio de Janeiro.
- 2022
José Eduardo dos Santos acaba por falecer, aos 79 anos, após um agravamento do seu estado de saúde. Internado em estado grave desde 23 de junho numa clínica em Barcelona, é noticiado cinco dias depois que a sua saúde se tinha degradado drasticamente. Mais tarde, as notícias dão conta de danos cerebrais irreversíveis. A morte viria a confirmar-se a 8 de julho.
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