Num nó estratégico de ligação a uma via rápida que percorre toda a cidade, perto da Praça Venezuela, estavam durante a manhã muitas dezenas de militares armados e vários tanques. Um sinal de que o regime está precavido para algum tipo de movimentação civil.
O apelo do autoproclamado Presidente interino, Juan Guaidó, para que os venezuelanos fossem para a rua e se dirigissem às instalações militares com uma carta apelando ao fim da violência e à transição democrática no país, não foi muito percetível durante a manhã. A Praça Altamira praticamente deserta, as instalações militares de Carlota igualmente sem gente, apenas alguns jornalistas e o ambiente semelhante nas principais zonas da cidade.
A equipa de reportagem da Lusa encontrou apenas uma exceção, em El Paraíso, na pequena praça Washington: uma concentração de cidadãos protestando contra o regime.
Dezenas de jornalistas deslocaram-se para o local e, a dado momento, a sensação era de que existiam mais repórteres do que manifestantes, tal era o aparato.
Ali viveu-se o ambiente normal de um protesto pacífico, com faixas de apelo aos militares venezuelanos: "Soldados, este é o teu povo que tu deves defender".
Entre as palavras de protesto ouvidas na praça, a indignação pelas condições de vida cada vez mais degradantes e o apelo a Maduro para que abandone o poder e dê lugar a um processo democrático para uma transição política.
Entre os manifestantes encontravam-se dirigentes políticos da oposição, mas também cidadãos comuns, famílias inteiras, desde os mais jovens aos mais idosos.
O único fator de perturbação que ocorreu foi a passagem ameaçadora junto à praça de um 'comboio' de motos da Guarda Nacional Bolivariana, com militares armados. Passaram apenas duas vezes e, quando os jornalistas se viraram para a avenida à espera de mais uma passagem, ela não aconteceu.
Quando questionados sobre se a ação de dia 30, quando Juan Guaidó deu a entender que iria ocorrer uma transferência de regime, terá sido um fracasso, todas as pessoas dizem que não, que "o processo continua em curso" e que as pessoas não vão desistir enquanto não terminar a usurpação do poder por parte de Maduro.
Para hoje estão previstas manifestações pró e contra o regime de Nicolás Maduro.
Guaidó, que na madrugada da passada terça-feira desencadeou um golpe de força contra o regime, em que envolveu militares e apelou à adesão popular, pediu para que hoje os venezuelanos e suas famílias se manifestem junto às instalações militares para que o Exército deixe cair o Presidente do país, Nicolás Maduro.
A iniciativa da passada terça-feira constituiu o arranque da denominada “Operação Liberdade” que, segundo Guaidó, visa pôr termo ao que chama de “usurpação” da presidência por Nicolás Maduro.
A presidência interina de Guaidó é reconhecida por cerca de 50 países, incluindo os Estados Unidos da América, enquanto Maduro, que tem o apoio da Rússia, além de Cuba, Irão, Turquia e alguns outros países, considerou que a “Operação Liberdade” configura uma tentativa de golpe de Estado.
Nicolás Maduro, que tem sido alvo de forte contestação nas ruas, mas que aparentemente mantém o controlo das instituições, continua a ver as chefias militares a confirmarem-lhe a lealdade, mantendo a situação do país num impasse.
Os confrontos registados desde a madrugada da passada terça-feira provocaram a morte de cinco manifestantes, três dos quais menores, e 239 ficaram feridos, segundo informações das Nações Unidas
*Por João Pedro Fonseca e Felipe Gouveia (texto), Paulo Cunha (fotos), da agência Lusa
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