Durante as operações de dragagem no estreito de Madura, os arqueólogos encontraram restos fossilizados de 36 espécies de vertebrados. Esta é a primeira descoberta de fósseis no fundo do mar entre as ilhas indonésias.

Esta área, chamada Sundaland, foi em tempos uma vasta planície e entre as descobertas estão dois fragmentos de crânio de Homo erectus.

Em conjunto, estas descobertas oferecem uma imagem única de um ecossistema pré-histórico e da posição do Homo erectus na região, noticiou na sexta-feira a agência Europa Press.

Restos fósseis de Homo erectus já tinham sido encontrados na ilha de Java. Os mais famosos são os crânios de sítios arqueológicos como Trinil, Sangiran e Ngandong.

Até agora, os investigadores acreditavam que o Homo erectus tinha vivido isolado durante muito tempo em Java. As novas descobertas mostram que o Homo erectus de Java se dispersou para as terras baixas vizinhas de Sundaland durante períodos de nível do mar mais baixo.

A espécie provavelmente espalhou-se ao longo dos principais rios. "Aqui tinham acesso a água, marisco, peixe, plantas comestíveis, sementes e fruta durante todo o ano", frisou o arqueólogo da Universidade de Leiden e coautor do estudo, Harold Berghuis, citado num comunicado.

"Já sabíamos que o Homo erectus recolhia conchas de rios. Entre as nossas novas descobertas estão marcas de cortes em ossos de tartarugas aquáticas e um grande número de ossos partidos de bovinos, o que indica caça e consumo de medula óssea", frisou.

As novas descobertas mostram que o Homo erectus de Sundaland caçava ativamente bovinos saudáveis e fortes. Não havia indícios na população inicial de Homo erectus em Java, mas sabe-se que ocorreu em espécies humanas mais modernas no continente asiático.

O Homo erectus pode ter copiado esta prática destas populações. Isto sugere que pode ter havido contacto entre estes grupos de hominídeos, ou até mesmo troca genética.

O local foi estudado ao pormenor nos últimos cinco anos. "Muitas vezes, apenas o material mais convincente neste tipo de investigação, como os fósseis de hominídeos, é publicado. Apresentamos os resultados dos nossos estudos em quatro artigos extensos e ricamente ilustrados, criando uma janela única para a Sonda inundada de há 140 mil anos", frisou Berghuis.

A investigação foi conduzida por investigadores da Universidade de Leiden (Holanda), em colaboração com uma equipa de especialistas da Indonésia, Austrália, Alemanha e Japão. O primeiro dos artigos foi publicado esta semana na revista Quaternary Environments and Humans.

"Os fósseis provêm de um vale fluvial inundado, que com o tempo foi sendo preenchido por areia fluvial. Conseguimos datar o material em há aproximadamente 140.000 anos. Essa foi a penúltima era glaciar. Grande parte do Hemisfério Norte estava coberto de glaciares, e tanta água da Terra estava armazenada nas calotes polares que os níveis globais do mar estavam 100 metros mais baixos do que atualmente", acrescentou.

Elefantes, rinocerontes, hipopótamos, dragões-de-komodo ou tubarões-de-rio. Naquela época, Sundaland parecia a savana africana atual, uma pradaria bastante seca com faixas estreitas de floresta ao longo dos rios principais e uma fauna rica que incluía várias espécies de elefantes, bovídeos, rinocerontes e crocodilos.

A maioria destas espécies está extinta, enquanto outras são antepassados de espécies que ainda habitam a região, mas cuja sobrevivência está seriamente ameaçada.