“A verdade é que não houve informação sobre esta matéria, a verdade é que houve um défice de publicidade, de esclarecimento sobre estes assuntos”, afirmou o líder parlamentar e presidente do PS, Carlos César, em declarações aos jornalistas, numa reação ao veto, conhecido na terça-feira, do Presidente da República às alterações à lei de financiamento dos partidos aprovadas pelo PSD, PS, BE, PCP e PEV.
Por isso, afirmou, “o PS está naturalmente aberto a que essa discussão se faça no parlamento com maior nitidez, com maior clareza, com maior exposição”, alertando ser necessária a concordância de todos os partidos.
“Sei que o PSD está numa posição de suspensão em relação a decisões sobre muitas matérias em virtude do processo de eleição de liderança. Mas se estivermos em condições de, dentro de 15 dias, conforme determina como prazo mínimo o regimento, de apreciar em plenário esta matéria assim acontecerá. Isso depende naturalmente da opinião de todos os partidos”, refere.
Carlos César respondeu apenas a uma pergunta dos jornalistas, não tendo sido possível esclarecer se o PS pretende confirmar ou alterar o conteúdo do diploma devolvido à Assembleia da República.
Uma vez que se trata de uma lei orgânica, a sua confirmação, após um veto presidencial, exigiria uma aprovação do diploma por dois terços.
O líder parlamentar do PS recusou ainda que este veto presidencial represente qualquer derrota para os partidos.
“Se fosse uma derrota para o sistema de partidos, era uma derrota para a democracia e o Presidente da República não pretende infligir uma derrota à democracia, mas apenas contribuir para que esta seja mais transparente, mais eficaz”, defendeu, salientando que “sem partidos políticos fortes, a democracia fica fragilizada”.
O Presidente da República exigiu hoje que a legislação sobre financiamento dos partidos seja feita com publicidade dos seus motivos e transparência, e demarcou-se pessoalmente de parte das alterações incluídas no diploma que vetou na terça-feira.
Na mensagem enviada à Assembleia da República, que acompanha o seu veto, Marcelo Rebelo de Sousa refere que "o fim de qualquer limite global ao financiamento privado e, em simultâneo, a não redução do financiamento público, traduzida no regime de isenção do IVA" foram normas incluídas no diploma sem fundamentação e constituem "uma mudança significativa" no regime em vigor, "tudo numa linha de abertura a subida das receitas, e, portanto, das despesas dos partidos".
Para Carlos César, o veto do Presidente da República “é essencialmente assente em questões de natureza procedimental” e lembrou que a urgência de legislar sobre esta matéria teve origem em dúvidas e solicitações do Tribunal Constitucional (TC).
“O senhor Presidente da República anui na necessidade de, de forma urgente, corresponder a solicitações e dúvidas com origem no TC e salienta, sobre dois aspetos dessa legislação, a necessidade de maior publicidade e transparência”, referiu.
Quanto às alterações feitas aos limites de financiamento dos partidos na angariação de fundos, César remeteu-as para a necessidade de dar enquadramento legal a iniciativas partidárias como a Festa do Avante, do PCP, e do Chão da Lagoa, do PSD/Madeira.
Já sobre a alteração ao regime de IVA, o líder parlamentar socialista defendeu que “a convicção do legislador é de que houve apenas uma clarificação”, tendo o parlamento afirmado “o que já devia ser a interpretação adequada”.
Carlos César afirmou ainda que as alterações aprovadas “não têm qualquer efeito retroativo”, negando que tenham qualquer relação com o contencioso que o PS tem com a Autoridade Tributária.
O líder parlamentar do PS salientou ainda que, apesar de inicialmente o assunto ter sido trabalhado num grupo de trabalho informal, foi depois tratado na Comissão de Assuntos Constitucionais a 18 de outubro, remetendo para a ata da reunião.
“Quem quis, pelo menos a partir dessa data, podia ter obtido informação a partir desse assunto”, afirmou.
Por outro lado, o líder parlamentar socialista defendeu que a conferência de líderes deve refletir sobre o regime de agendamento dos diplomas.
“A conferência de líderes necessita de fazer uma reflexão sobre este aspeto para que não existam falhas que proporcionem défice de informação e um regime de precipitação constante e emergência constante dos grupos parlamentares na análise de diplomas”, afirmou.
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