A luso-angolana, nascida em Montalegre, Portugal, em 1934, expressou hoje, em declarações à agência Lusa, a sua opinião sobre o tema aberto, em abril passado, pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que sugeriu que Portugal devia liderar o processo de assumir e reparar as consequências do período do colonialismo, com, por exemplo, o perdão de dívidas, cooperação e financiamento.
“Eu acho que há muita maneira [de reparar]. Dinheiro eles também não têm, que também têm dívida”, referiu.
Para Maria Eugénia Neto, há muitas maneiras de Portugal ajudar, citando, como exemplo, o apoio do Governo português na estabilidade política de Moçambique.
“Por exemplo, em Moçambique estavam aqueles bandidos todos a avançar, a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] não conseguia, Portugal foi e tirou-os, mas não é só isso, há muita coisa”, apontou.
Segundo Maria Eugénia Neto, escritora e jornalista, a colonização afetou não só angolanos, mas portugueses também, “muitos deles, também foram escravos”.
“Coitados, alguns que vieram para aqui sabiam tanto ou menos dos que estavam aqui, em relação a ler e tudo, então o povo português não foi tão sacrificado?”, realçou Maria Eugénia Neto.
A antiga primeira-dama de Angola e presidente da Fundação Dr. António Agostinho Neto disse concordar com Marcelo Rebelo de Sousa, mas entende que a expressão não foi a mais correta.
“Os outros não concordaram, há sempre os que concordam e os que não concordam, mas eu acho que ele não disse a palavra certa. O Presidente devia ter dito outra palavra, enfim, corrigirmos certos danos”, salientou.
Sobre as reparações, o Governo liderado pelo social-democrata Luís Montenegro afirmou que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português e que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.
Em outra ocasião, em Cabo Vede, o chefe de Estado português disse que a reparação às ex-colónias está a ser feita através da cooperação portuguesa com as antigas colónias.
“Ainda agora houve um apelo das instituições internacionais para o Norte apoiar o Sul. Para Portugal não houve dúvidas nenhumas sobre a prioridade a dar àqueles que são Estados que falam português, que vieram à independência depois de terem sido colónias”, disse o chefe de Estado português.
Maria Eugénia Neto repetiu que “há muita maneira de ajudar e de melhorar as relações e é o que muitos estão a fazer e sempre fizeram muitos”.
“Quem preparou a nossa viagem para virmos combater — eles sabiam que a gente vinha combater — foram eles, foi o Partido Comunista que preparou a nossa viagem, que íamos morrendo, eu e os meus filhos, o meu marido, no caminho”, recordou a luso-angolana sobre a saída de Portugal.
“Só ganhamos hoje se tivermos boas relações com Portugal, falamos a mesma língua, temos um bocado de cultura que é igual, temos muita coisa e o mundo mudou”, acrescentou.
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