Da responsabilidade da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E), que agrupa organizações europeias ligadas a transportes e ambiente, o estudo destaca que mais de metade dos danos causados ao clima pela aviação podiam ser evitados com 1,60 euros por passageiro, menos do que o custo de um café tomado no aeroporto.

O estudo, que em Portugal foi divulgado pela associação ambientalista Zero, que faz parte da T&E, indica que a redução do aquecimento se prende com os rastos de condensação (“contrails”), as linhas brancas que se veem no céu à passagem dos aviões, formadas pelo contacto entre o ar aquecido pelos motores e o ar frio em altitude.

É possível, explica a Zero num comunicado a propósito do estudo, fazerem-se pequenos ajustes nas trajetórias dos voos, como pequenas subidas ou descidas, para evitar zonas atmosféricas frias e húmidas onde se formam os rastos. Esses ajustes teriam um custo por passageiro de quatro euros em viagens intercontinentais e menos de dois em viagens dentro da Europa.

O ajuste nos planos de voo iria reduzir para metade até 2040 o aquecimento, porque os rastos de condensação têm um efeito de aquecimento do planeta, já que como as nuvens causam efeito de estufa. E as estimativas indicam que esse efeito é tão importante como as emissões de dióxido de carbono (CO2) dos aviões.

De acordo com o comunicado, apenas uma pequena parte dos voos — 3% a nível global e 5% na União Europeia — gera 80% do aquecimento total causado por rastos de condensação, pelo que os ajustes nos planos de voo seriam muito limitados e quando acontecessem seria numa pequena parte das viagens.

Nos voos sujeitos a ajuste, o consumo adicional de combustível seria de 5% ou menos. Mas evitar rastos de condensação “tem um benefício no clima 15 a 40 vezes superior ao do malefício trazido pelo consumo extra de combustível”.

Segundo as contas apresentadas no documento, por cada tonelada de dióxido de carbono equivalente evitada, os ajustes nos planos de voo são cerca de 15 vezes mais baratos do que outras.

As organizações dizem que a legislação deve contemplar a monitorização dos efeitos não CO2 em todos os voos da UE já a partir de 2027, data a partir da qual os voos na Europa devem ser monitorizados.

A propósito das conclusões do estudo, a associação Zero recomenda que se torne obrigatório o céu livre de rastos de condensação, que se melhore e aumente a recolha de dados das emissões não CO2 já a partir de 2027 na UE, e que se aumente a quantidade de combustíveis sustentáveis na aviação.

No estudo da T&E refere-se que no ano passado foi feito um teste com mais de 70 voos, nos quais 54% da formação de rastos foi mitigada, com um acréscimo estimado de 0,3% no consumo de combustível.

Os rastos de condensação constituem os efeitos não-CO2 mais significativos da aviação. A maioria dos rastos dissipa-se em poucos minutos, mas em certas condições podem persistir na atmosfera, espalhar-se e transformar-se em nuvens artificiais com um efeito de aquecimento.

Voos na América do Norte, Europa e a região do Atlântico Norte representaram mais de metade do aquecimento global causado por rastos de condensação em 2019. Os que mais contribuem para o aquecimento são os dos voos noturnos e do final da tarde.

A questão foi debatida na quarta-feira na conferência da ONU sobre o clima que está a decorrer em Baku, no Azerbaijão, num evento organizado nomeadamente pela Universidade de Cambridge.

As emissões da aviação devem mais do que duplicar até 2050, segundo a universidade, que também alerta para o contributo para o aquecimento global dos rastos brancos dos voos dos aviões, considerado equivalente a 33 mil milhões de toneladas de CO2.