“Acredito que se nos mantivermos unidos e seguirmos, por exemplo, o formato da Cimeira da Paz, podemos acabar com a fase quente da guerra. Podemos tentar fazê-lo no final deste ano”, disse Zelensky, em entrevista hoje à BBC, durante uma visita ao Reino Unido.
O presidente ucraniano falou das suas intenções de desenvolver um plano para acabar com os combates no seu país, com apoio dos parceiros ocidentais, que devem, por seu lado, pressionar a Rússia a concordar em sentar-se à mesa e pensar em acabar com a guerra.
Zelensky já disse recentemente que aceitava que os representantes russos estivessem numa segunda cimeira, que deverá ter lugar no final do ano, e atingir um plano de paz finalizado.
Antes disso, no final de julho ou início de agosto, haverá reuniões de conselheiros de ministros sobre questões de segurança, especificamente segurança energética, provavelmente no Qatar.
Em agosto será realizada uma reunião na Turquia sobre livre navegação marítima, com atenção também à segurança alimentar, e em setembro haverá finalmente uma reunião no Canadá sobre troca de prisioneiros e regresso de menores à Ucrânia.
Segundo o líder ucraniano, o fim dos combates não significa que todos os territórios ucranianos devam ser reconquistados pela força, pois acredita que a diplomacia pode ajudar a atingir esse objetivo.
Zelensky insistiu mais uma vez que abdicar de território em troca de salvar vidas não é uma opção.
“Perder para nós é perder o nosso país. Alguém diz: ‘o que é mais importante para si: o território ou o povo? Como se pode fazer esta comparação? As pessoas são importantes, mas isso não significa que se lhes possa dar [aos russos] 30% das nossas terras”, enfatizou.
O presidente ucraniano sublinhou também que congelar o conflito e permitir que Moscovo mantenha o território já capturado não é uma boa saída para a guerra.
“Quem lhe disse que não irá mais longe? Quem disse que um conflito congelado iria funcionar? Já estava congelado [desde 2014 após o levantamento pró-russo no Donbass]. Quem disse que [o presidente da Rússia, Vladimir] Putin não nos quer destruir? Ele quer. Ele só quer o regresso da União Soviética sob a sua liderança até ao fim dos seus dias”, argumentou.
O chefe de Estado ucraniano acrescentou que, se o antigo presidente dos Estados Unidos e candidato republicano, Donald Trump, quiser tentar resolver a guerra em 24 horas, como disse que faria, poderá tentá-lo, mas a questão é a que custo.
“Porque está claro como fazê-lo – significa apenas parar, dar e esquecer. Sem sanções, Putin tomará o território, criará uma vitória para a sua sociedade e para o mundo. Ninguém irá para a cadeia. Sem responsabilização, sem tribunal. Sim, é um caminho muito fácil, mas nunca o seguiremos”, declarou.
“Porque não se trata de um presidente ou de dez pessoas, trata-se de uma nação. Os russos mataram tantas pessoas, como podemos esquecer isso? E não vamos perdoar”, prosseguiu.
Zelensky considerou ainda que Putin é “pouco inteligente e implacável”, o que “é ainda mais perigoso” num “assassino pragmático”.
O comandante da unidade “Terra” da 3.ª Brigada de Assalto Separada ucraniana, Mikola Volokhov, disse entretanto que as forças russas poderão estar a preparar uma nova tentativa de romper as linhas defensivas da Ucrânia.
A Ucrânia acredita que a Rússia tentará outra ofensiva este verão, antes de as tropas ucranianas receberem reforço de armamento ocidental e caças F-16, embora analistas considerem improváveis ??grandes avanços na frente, onde os russos estão a fazer progressos lentos, com pequenos ganhos.
“Temos algumas informações de que o inimigo está a concentrar as suas forças, é difícil dizer quando, mas parece que haverá outra tentativa de avanço”, afirmou o comandante militar, segundo a agência Ukrinform.
O porta-voz do grupo tático-operacional das tropas de ‘Kharkuiv’, Vitali Sarantsev, sustentou por seu lado que os russos não abandonaram as suas intenções de avançar na região nordeste, embora o ritmo dos combates tenha diminuído.
Segundo o relatório vespertino do Estado-Maior da Ucrânia, a situação na linha da frente caracterizou-se hoje pela atividade russa nos setores de Kharkiv, Kupiansk (nordeste) e Pokrovsk (leste), onde são utilizadas “todas as forças e meios disponíveis para alcançar os seus objetivos”.
O Ministério da Defesa russo anunciou em paralelo a captura de outras duas pequenas aldeias nas regiões de Lugansk (leste) e Kharkiv (nordeste), enquanto o canal de análise militar DeepState afirmou que os russos ocuparam a cidade de Progres, na província oriental de Donetsk, depois de terem tomado também Rozdolivka no dia anterior.
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