A Arábia Saudita organizará o campeonato do mundo de futebol em 2034 e uma startup portuguesa quer replicar no Médio Oriente a sua revolução digital aplicável aos eventos desportivos, com futebol à cabeça, e culturais.

A Full Venue, liderada por Tiago Costa Rocha, fundada em 2020, começou por usar Inteligência Artificial (IA), algoritmos, análise e otimização de dados para ajudar ao crescimento de audiências e sua fidelização, receitas de marketing e bilhética de clubes (Villarreal e Club Bruge) e federações (Federação da Bélgica, Roménia, País de Gales e Roménia).

Posteriormente, estendeu o raio de ação a eventos culturais e festivais de música (Primavera Sound, Marés Vivas ou Paredes de Coura) e quer, proximamente, com a ajuda da IA dar mais um passo a caminho do Retalho.

“A IA descobre se (o adepto) quer comprar o primeiro ou o segundo equipamento”

Da entrada pelas lojas adentro falaremos adiante. Fixemo-nos, por agora, no core da startup que tem Tiago Monteiro, ex-piloto, como um dos acionistas.

Opera na transformação digital de desporto e eventos. Começou por levantar “70 mil euros” no meio da pandemia e no final de 2023, numa ronda de investimento, obteve “2 milhões de euros com a Buenavista Equity Partners”, private equity espanhola e ramificada em Portugal. A verba levou a empresa a crescer de três para dez pessoas.

Na Arábia Saudita, engajado com a Visão 2030, Tiago Costa Rocha reconhece obra feita. “Na fase inicial, levaram-se os jogadores, treinadores, profissionais de excelência, não só portugueses, mas do mundo inteiro e há trabalho que está a ser feito, potenciado por estas estrelas planetárias”, descreve na conversa com o SAPO24 a partir de Riade, Arábia Saudita, onde participou no World Football Summit Asia 2024, no painel: “O papel da IA: gerar novas audiências para o desporto saudita e turismo”.

Contudo, a presença de Ronaldo na Liga saudita não é um imediato sinal de maximização de receitas, de “casas cheias”, nem stock de camisolas esgotado.

“Este negócio tem de ser rentável. Trabalhamos com essa parte de dar rentabilidade às propriedades desportivas, apoiar no seu produto, o futebol e os jogadores, criar estratégias de comunicação direcionada, contar histórias, trazer os adeptos mais próximos das marcas e, depois, usar tecnologia avançada, neste caso a Inteligência Artificial, para perceber onde é que estão esses núcleos de pessoas com maiores probabilidades de interagirem com determinados tipos de produtos”, explica.

“Aqui já entra uma estratégia mais de comunicação direcionada e quando se pensa em comunicação são os meios que estas organizações têm para falar com os seus adeptos”, realça. “Nalguns desses meios, inclusive, as organizações pagam para anunciar e tendo em conta a competitividade no mercado de anúncios online, é preciso apontar com precisão e otimizar”, reforça o CEO da Full Venue.

Tiago Costa detalha a estratégia no terreno. Passa por “conhecer muito bem quem já é nosso adepto e como chegar a ele”. Mas, vai mais além. “Trazer novos adeptos”, realça.

E como é a que Full Venue se propõe a fazer crescer a massa adepta? “Conseguimos, através da análise de comportamento online, perceber quem tem um comportamento semelhante aos melhores adeptos das organizações que trabalham connosco e, desta forma, conseguimos ir às redes sociais, Google, Instagram e Facebook, e ir à procura de potenciais novos adeptos, utilizadores, que são potenciais novos consumidores para, no final de tudo, tornar a marca muito mais apreciável”, detalha.

“Obviamente, que os jogadores fazem o futebol acontecer, mas para o espetáculo ser rentável e interessante, não vive sem as pessoas ao redor. Entramos nesta parte de pensar o desporto, o futebol como um negócio, ter uma visão clara do que é preciso fazer para tornar o produto mais interessante para os adeptos”, clarifica.

O padrão de navegação nas redes sociais mapeia as tendências dos adeptos. A Full Venue faz a leitura desses dados para aumentar o negócio. “A IA descobre qual o cachecol que o adepto quer comprar ou se quer comprar o primeiro ou o segundo equipamento e quase que me direciona conforme o meu padrão nas redes sociais”, sublinha Tiago Costa Rocha.

Enquanto o fã navega à procura de um produto, a Full Venue trabalha os dados no quarto dos fundos. “(O adepto) recebe uma mensagem, um e-mail, a dizer para comprar, por exemplo, um produto que várias vezes viu ou que já deu indicadores que poder vir a comprar pelo padrão de navegação nas plataformas do clube”, adianta.

Mas não só. “Pode, enquanto clube, aceder a toda esta informação e usar a Inteligência Artificial, por exemplo, para fazer um novo cachecol ou para definir quais os equipamentos da próxima época”, explicita, enquanto puxa um exemplo. “O terceiro equipamento oficial do Al Ittihad foi gerado por Inteligência Artificial”, remata.

“Não é o futuro, é o presente”, diz. “Os resultados são claríssimos, se virmos num horizonte de 20 temporadas dos três ou quatro equipamentos oficiais de cada clube, vemos claramente quais é que tiveram mais tração e em que momentos e podemos, a partir daí, inferir o que é que vamos fazer a seguir”, sustenta.

“Todos estes dados de consumo são analisados. E não é à mão. É colocar algoritmos em cima deles, que é por isso que os algoritmos existem, para ajudar na tomada de decisão, decisão que vai ao encontro das necessidades dos usuários”, anota.

Marcas de roupa “não têm três equipamentos, têm 300 equipamentos”

Antigo colaborador na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Tiago Costa Rocha entende que a Full Venue pode alargar o leque de ação. E depois do futebol e da música vê mais negócio no horizonte. “Nos últimos quatro a seis meses entrámos em força numa área que nos pode levar a outros voos: o retalho. Estamos a falar de moda, por exemplo, marcas de roupa, marcas que vendem todos os dias uma quantidade enorme de produtos, não têm três equipamentos, têm 300 equipamentos”, exclamou.

Crescimento de áreas, orgânico e o termo startup vai caindo para dar lugar a empresa. “Queremos que a nossa startup, a nível de faturação, e agora esquecendo um bocado o conceito startup, seja uma empresa saudável, porque queremos ganhar mais do que gastamos”, aponta.

Dá uma lição de gestão. “Temos indicadores, os principais, a faturação e clientes. E não há nada mais importante do que a retenção”, explica. “A métrica principal de análise do que se passa na empresa é a retenção, porque se conseguirmos reter clientes, significa que o nosso produto é vendável em qualquer lado, se o cliente experimentar e não for embora, quer dizer que temos caminho para procurar”, atesta.

A taxa de retenção de clientes da empresa liderada por Tiago Costa Rocha “anda à volta dos 90%, e os 10% que já não estão, não foram por motivos de não estarem satisfeitos, foi sim por não terem budget para trabalhar connosco”, aclara.

Faz contas e olha para o presente e o futuro próximo. “Este ano vamos crescer à volta de 30%, foi um ano de transição, um ano de contratação, passamos de 3 pessoas para 10 pessoas. E vamos atacar o milhão e meio de faturação ao qual queremos apontar no ano de 2025”, prespetivou.

Perante esse cenário, “conseguindo manter os clientes que estamos a conquistar, conseguindo atingir a faturação que estamos a propor, durante o final de 2025, início de 2026, muito provavelmente iremos outra vez para o mercado procurar nova ronda de investimentos”, perspetiva Tiago Rocha Costa, CEO da Full Venue.