O futebol turco tem estado arredado dos grandes feitos a nível das competições europeias. De seleções ou de clubes. Razão porque pouco se fala do jogo da bola por aquelas paragens Otomanas que tocam, ao de leve, a Europa. Mas neste enorme buraco mediático, uma pequena exceção nasceu, e que ainda está fresca, com uma referência, nos últimos dias, pela negativa: as celebrações da seleção turca – saudação militar efetuada pelos jogadores nas celebrações dos seus golos no triunfo de sexta-feira sobre a Albânia, por 1-0, e no empate de segunda-feira, 1-1, frente à França, gesto visto como uma referência de apoio à ofensiva militar que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ordenou contra as posições das milícias curdas no nordeste da Síria.
Em resumo, para quem faz uma busca pela palavra Turquia, o tal país que não pertence à União Europeia, é política que o traz para as primeiras páginas de notícias. O futebol está em segundo plano, até porque a vida não estava fácil para os lados do Besiktas, um dos “grandes” do futebol turco que ocupa, à data, o 12.º lugar a nível doméstico. Na Liga Europa somava duas derrotas no Grupo K antes da partida frente ao SC Braga. Ao invés, os bracarenses, que acompanham os turcos no plano doméstico (ocupam um modesto 11.º lugar), atuam por essa Europa fora como se tivessem vida dupla. Chegaram a Istambul com cinco vitórias e um empate em seis jogos.
Uma bola na barra. Um golo. Uma bola no poste
Ainda não tinham passado 10 minutos e o onze turco, através de Boyd, já tinha encostado uma bola no ferro da baliza de Matheus. A seguir, um remate do português Pedro Rebocho (ex-Benfica e emprestado pelos franceses do Guingamp), intercetado por Galeno, dava a ideia de que o SC Braga teria vida complicada na cidade que liga dois mundos. Puro engano.
A partir desse lance, os arsenalistas começaram a, passo a passo, meter o “seu” jogo. Troca de bola, ao primeiro toque e o contra-ataque, venenoso, a entrar.
Paulinho, junto à pequena área, rodopia, envia a bola dois palmos acima das mãos esticadas de Karius, guarda-redes emprestado pelo Liverpool. O jogo estava aberto. E de um quase autogolo do SC Braga (27’), de Pablo, resultou um quase golo dos bracarenses, com o pé esquerdo de André Horta a responder a um cruzamento de Galeno e a bola a ir na direção da malha lateral.
Dois lances que levaram Ricardo Sá Pinto a mostrar os suspensórios, de braços abertos, como que a pedir um golo. E se um Horta falha, o outro, o irmão Ricardo, marca, parecendo escutar as preces do timoneiro. O capitão do Besiktas, o croata Vida, perde infantilmente a bola numa posição frontal, e o SC Braga aproveita. Galeno remata, defesa de Karius e na recarga, o Horta que já tinha marcado aos Wolves, na vitória dos guerreiros em Inglaterra, coloca a bola a abanar as redes.
O intervalo chega com mais uma vez o ferro da baliza à guarda de Matheus à abanar, depois de um disparo de Ljajic, num lance de bola parada.
Outra vez o poste. E ainda bem que as balizas não são maiores
Aquela baliza estava quente. E mais ficou com mais uma “redondinha” a embater com estrondo no poste. Desta vez, a prontidão de Galeno, que tinha andado no lado esquerdo do ataque na 1.ª parte e que, no reatamento, voltou ao lado direito. No SC Braga, o esférico passa por todos os setores, entre o pausado e organizado, intermediado com rápidos contra-ataques. Mais uma jogada pelo flanco onde mora Galeno e mais uma oportunidade de golo, desta vez de Novais.
Os turcos estavam encostados às cordas, mas libertaram-se, temporariamente das amarras. Umut Nayir, que tinha entrado instantes antes, empata a partida, depois de um falhanço de Bruno Viana (que não tinha tido vida fácil no empate caseiro dos bracarenses frente ao Slovan Bratislava) que deixou escapar a bola. Estava feito empate ao minuto 70.
Sem respirar, três minutos depois, Pablo, central arsenalista, comete uma (escusada) penalidade. No pontapé da marca de 11 metros, Ljajic atira para a bola embater... já sabem onde ..., de novo, no poste da baliza de Matheus. Se há noites em que dava jeito, pelo menos a uma das equipas, as balizas terem mais cinco centímetros, foi esta noite. Para a outra, o SC Braga, agradece as medidas impostas pelas Leis do Jogo.
Foi o momento-chave. Quando parecia que morria, o Braga ganha uma segunda vida, com a dupla substituição que meteu Wilson Eduardo em campo. A primeira vez que tocou na bola, desperdiçou, e atirou à figura do guarda-redes alemão. Sempre na forma cínica de jogar, a formação portuguesa aproveitou uma autoestrada lado direito. Esgaio, Galeno e Wilson Eduardo e golo num ato em cinco toques.
O SC Braga estava, de novo, em vantagem. Faltavam pouco mais de 10 minutos para a partir terminar e os minhotos não deixaram jogar e acabaram por cima de um adversário que procurou, desesperado, pontos vindos do ar.
Pela segunda vez na história, o SC Braga vence os turcos do Besiktas, na Turquia. Cumpre a 1.ª volta do Grupo K na liderança, com 7 pontos. E no próximo jogo recebe os turcos. Que têm zero.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
Decorria o minuto 38. O Besiktas pretendia sair da defesa, lateraliza jogo, lateraliza, lateraliza, passes e passes para o lado, até a bola chegar a Vida, internacional croata e capitão da equipa turca. Desenquadrado, perde o esférico em zona frontal e proibida para o jovem Galeno. Este remata de pronto. Na recarga, golo de um dos irmãos Horta, Ricardo. Um falhanço do experiente jogador conhecido pelo carrapito louro que complica, e muito, a vida à formação turca, que não tem tido vida fácil também a nível doméstico.
Balizas, a (des)vantagem de terem as medidas que têm
Ditam as regras do futebol que nas balizas a distância entre os postes seja de 7 metros e 32 centímetros. E 2 metros e 44 centímetros separam a barra do solo. Umas medidas, em largura, que têm origem no portão da escola de Cambrigde, onde o desporto-rei começou a ser jogado. Nesta noite, o Beskitas teve razões para evocar que esta deveria ser maior. Duas bolas nos postes e uma na barra. E a história do jogo poderia ser outra para o lado turco.
Fica na retina o cheiro de bom futebol
O segundo golo bracarense, que deu a vitória aos minhotos na Turquia, é um hino ao futebol de contra-ataque. Pelo lado direito, Esgaio, sempre a olhar em frente, conduziu a bola dando dois toques antes de a colocar no rápido Galeno, este, de imediato, colocou-a na área para um supersónico Wilson Eduardo que, sem hesitar, endossou-a para a baliza.
Nem com quatro mãos chegava a essa bola
Dois golos sofridos na cara do golo. Karius, guarda-redes alemão que defende a baliza do Besiktas, foi buscar com as duas mãos a bola ao fundo das redes, mas nem que tivesse quatro mãos e quatro pés conseguiria impedi-los. No primeiro ainda adiou, por segundos, o gesto. Defendeu o remate de Galeno, mas já não conseguiu enfrentar Ricardo Horta. No segundo, viu o supersónico Wilson Eduardo atirar a bola, de primeira, depois de uma jogada em fast forward pelo lado direito do ataque arsenalista. Quando assim é, é caso para dizer que a posição de guarda-redes é a mais ingrata em campo.
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