Há quatro anos, o Brasil perdeu a hipótese de conquistar a medalha de ouro, nos Jogos Olímpicos de Londres, ao ser derrotado pelo México na final. Depois disso, a selecção canarinha sofreu uma enorme humilhação, em casa, no Campeonato do Mundo de Futebol, em 2014, e as várias eliminações levavam a que se falasse na decadência do futebol brasileiro. Uma espécie de gota de água na crise que tem assolado a política e a economia do país, e colocado a sociedade brasileira entre a raiva e a depressão. Neste sábado, o Brasil deu a volta por cima: a vitória sobre a Alemanha, a equipa responsável pelo 7-1 do Campeonato de Mundo de há dois anos, e a conquista da tão sonhada glória olímpica, trouxe alegria não apenas a quem estava no estádio, mas a todo um país que bem precisa desse suplemento de alma.
Após as decepções das pratas nos Jogos de Los Angeles-1984, Seul-1988 e Londres-2012 (além das medalhas de bronze de Atlanta-1996 e Pequim-2008), o jogo de ontem era de grande expectativa. E Neymar, que tinha nos seus ombros parte significativa da esperança de um país inteiro no ouro, correspondeu às expectativas.
O avançado abriu o marcador com a cobrança de uma falta, aos 26 minutos de jogo, e parecia encaminhar o Brasil à predestinada medalha de ouro em casa. Mas os alemães tinham outros planos.
Aos 13 do segundo tempo, Maximilian Meyer rematou cruzado e rasteiro, sem chances para o guarda-redes Weverton. Não houve forma de escapar ao prolongamento, e ainda assim, depois de mais 30 minutos, o empate persistiu.
Nos penaltis, a magia do Maracanã entrou em ação e empurrou o Brasil rumo ao ouro. Weverton, guarda-redes do Atlético Paranaense convocado pelo técnico Rogério Micale apenas após o corte de Fernando Prass durante a preparação, mostrou que o destino estava do lado da seleção: defendeu a marcação do penalti de Nils Petersen, a quinta da Alemanha.
E para definir o primeiro título olímpico do futebol brasileiro, a última marcação de grande penalidade foi de Neymar, camisola 10, capitão e símbolo da seleção.
Alvo de muitos elogios, mas também das mais duras críticas, Neymar não fugiu da responsabilidade e chutou com categoria, para estabelecer o 5-4 nos penaltis e dar ao país a sexta medalha de ouro - e a mais cobiçada - nos Jogos Rio-2016. A primeira na história do futebol brasileiro.
Neymar mostra o caminho
É verdade que uma vitória sobre a equipe olímpica alemã, repleta de jogadores sub-23, não tem o mesmo peso que teria se os adversários fossem os jogadores habitualmente escolhidos pelo técnico Joachim Low, os mesmos - ou quase - que foram responsáveis pela goleada de 18 de julho 2014.
Mas, ainda assim, ajuda amansar a decepção do Campeonato do Mundo de 2014, assim como oferece a Tite, o novo técnico da seleção principal, um esboço para o futuro da equipa. E o trunfo das duas equipas é o mesmo: Neymar. O avançado do Barcelona, apesar de não ter tido o nome na equipa que sofreu a histórica goleada diante dos alemães no Mundial, já que não estava em campo devido à lesão na coluna sofrida na partida anterior contra a Colômbia, deu a cara à luta nos Jogos Olímpicos.
Neste sábado, Neymar deu o exemplo e comandou a boa atuação coletiva da seleção, sendo decisivo nos momentos difíceis, como no início do jogo, quando os alemães mostraram que, a exemplo da 'Mannschaft' principal, são perigosíssimos no contra-ataque.
Aos 10 minutos, o coração da claque brasileira chegou a parar quando Julian Brandt recebeu a bola na entrada da área e rematou colocado. A bola foi bater na trave.
Após a euforia inicial, o Brasil foi se acalmando e Neymar, mesmo muito policiado, levantou as bancadas com um golaço. Perto da área, depois de outra entrada dura do avançado Ginter, o camisola 10 acertou na baliza. O guarda-redes Horn voou para tentar defender, mas a bola entrou.
A alegria no Maracanã era ensurdecedora: "Uh sai do chão quem é pentacampeão", gritava o estádio. Os frios alemães não pareceram sentir o golpe e voltaram a assustar Weverton. Aos 34, Meyer cruzou na área e Bender cabeceou com categoria, mas o Brasil foi novamente salvo pela trave.
Alemanha mostra força
No regresso do intervalo, o Brasil pecou pela desatenção e a Alemanha aproveitou. Aos 13 minutos, Wallace e Marquinhos erraram sucessivamente ao tentar avançar no campo e a bola sobrou para Meyer. O capitão alemão abriu na direita e foi receber de volta na área, acertando num remate rasteiro e colocado - longe da trave salvadora - que Weverton não alcançou.
O jogo ficou morno, com as duas equipas a estudar-se e a procurar brechas do outro lado. Isto até o Brasil armar uma verdadeira 'blitz' à procura da vitória ainda no tempo regulamentar. Aos 30 minutos da segunda parte, Renato Augusto escapou pela direita e cruzou para Gabriel Jesus, que chutou mas para fora. Dois minutos depois, Felipe Anderson, que tinha acabado de entrar no lugar de Gabigol, recebeu o lançamento preciso de Neymar e ficou cara a cara com Horn, mas demorou uma eternidade para finalizar e foi desarmado.
Aos 33, Neymar recebeu na entrada da área, driblou a defesa e chutou colocado. A bola passou raspando pela trave. Mas o golo não saiu.
Depois de darem tudo no tempo regulamentar, as duas equipas chegaram visivelmente cansadas ao prolongamento.
Mas cansaço, no futebol, significa espaço para atacar, e o Brasil teve duas chances incríveis de matar o jogo com Gabriel Jesus e Luan. A Alemanha respondeu. Petersen roubou bola de Rafinha e lançou Brandt, que tentou encobrir Weverton, mas a bola foi para fora.
Depois de anos sem receber a sua seleção, o Maracanã simplesmente queria mais emoção e a medalha de ouro teve mesmo de ser conquistada nos penaltis. As duas equipas foram perfeitas nas marcações até ao quinto jogador alemão. Petersen chutou e Weverton fez uma bela defesa. Só faltava Neymar bater e o craque, muitas vezes criticado pela falta de maturidade, mostrou a frieza de um líder, cobrando com perfeição o penalti de ouro do Brasil.
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