O evento arranca na sexta-feira, com a cerimónia de abertura, com os olhos postos nos abusos dos direitos humanos, em particular devido à minoria uighur, na China, que recebe a primeira competição de inverno, mas já os segundos Jogos no século XXI, depois de Pequim2008.
A perseguição à população uighur em Xinjiang, que os norte-americanos já qualificaram de genocídio, o tratamento dos tibetanos e a repressão de liberdades em Hong Kong são vários dos focos políticos de uma prova que, ainda antes de começar, está já envolta em polémica.
Estados Unidos e Reino Unido foram os mais proeminentes a anunciar um boicote diplomático, sem presença de qualquer representante nos Jogos, em particular nas cerimónias, a não ser a presença desportiva, e a estes seguiram-se muitos outros.
Canadá e a Austrália, entre outros, seguiram-se na medida de retirar a presença diplomática e política, sem prejudicar a participação dos atletas desses países, e em 19 de janeiro o Parlamento Europeu também recomendou aos Estados-membros um “boicote diplomático e político”.
Também Portugal não terá representação política nas cerimónias de abertura e encerramento, “por várias razões”, explicou em 24 de janeiro o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Desde “o momento político que se vive em Portugal” ao “sentido de unidade próprio da União Europeia” nas atuais “circunstâncias”, admitindo também o peso que tem o facto de os Jogos Olímpicos de Inverno não serem, “do ponto de vista desportivo, ‘o alfa e o ómega’ do desporto nacional”.
As críticas à realização do evento não pararam por aí, dado que o desaparecimento da tenista Peng Shuai, que acusou um antigo governante de a violar, trouxe à baila a proximidade do Comité Olímpico Internacional (COI) ao Governo chinês.
O presidente, Thomas Bach, conversou por via telemática com Shuai, mas ativistas e associações humanitárias criticaram a forma ‘velada’ como a desportista pareceu regressar a uma vida normal, ainda que em reclusão, e como o assunto não trouxe quaisquer repercussões fora do circuito mundial de ténis.
Enquanto robôs servem gelado às comitivas nos dias que antecedem as provas, e um destes autómatos está já preparado para ser o primeiro a participar no revezamento da tocha olímpica, também os ambientalistas criticam a pegada ecológica de Pequim, uma cidade altamente poluída.
Quanto à covid-19, a pandemia volta a ensombrar uns Jogos Olímpicos, depois de Tóquio2020, no verão passado, no país onde foram registados os primeiros casos e onde, no último domingo, a capital registou o maior número de novos positivos em 18 meses.
Mais elevada do que em Pequim, a braços há muito com medidas muito restritivas para controlo pandémico, está a ‘bolha’ olímpica, que tem tido, em média, 32 casos diários, sobretudo entre atletas e equipas técnicas, preocupando a organização.
Do lado do público, que esteve arredado de Tóquio2020, a expectativa do COI é que os recintos possam ter entre 30 a 50% da capacidade ocupada com convites, para compensar a decisão de desistir da venda de bilhetes ao público.
Entre convidados locais e expatriados, Pequim2022 terá algum público entre a capital, Zhangjiakou e Yanqing, nuns Jogos em que as apertadas regras sanitárias terão de ser cumpridas para evitar a ativação dos planos de contingência competitivos, entre a ‘repescagem’ de atletas para finais ou atribuições múltiplas de medalhas se não puderem ser disputadas.
De resto, a forma como a covid-19 tem sido gerida por Pequim levanta também dúvidas quanto à espionagem, e possível fuga de dados através do acesso a telemóveis dos atletas, para controlo sanitário, e repressão dos locais durante uma prova que se quer focada apenas no fenómeno desportivo.
Os Jogos Olímpicos de Inverno Pequim2022 realizam-se de sexta-feira a 20 de fevereiro, com a participação de quase 2.900 atletas, entre eles três portugueses: Ricardo Brancal e Vanina de Oliveira Guerillot, no esqui alpino, e José Cabeça, no esqui de fundo.
Comentários