A história chegou para ‘Cav’, como não poderia deixar de ser, num sprint caótico, bem ao seu estilo: o ciclista da Astana ficou ‘tapado’ uma, duas vezes, tentou esgueirar-se pela direita e pela esquerda, até encontrar espaço onde ele não existia para confirmar (se dúvidas houvesse) que é, de facto, o melhor sprinter de sempre.
“Wow. Nem acredito”, desabafou na ‘flash-interview’, com a serenidade de quem sabia que, mais cedo ou mais tarde, acabaria por desempatar com o ‘Canibal’ Eddy Merckx.
A vitória do corredor da Ilha de Man, de 39 anos, é ainda mais especial, porque bateu o melhor velocista da atualidade, o belga Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck), mas também um seu contemporâneo, o norueguês Alexander Kristoff (Uno-X), que foi terceiro com as mesmas 04:08.46 horas do vencedor.
Protagonista indiscutível da quinta etapa, Cavendish foi prontamente cumprimentado por ‘meio’ pelotão, nomeadamente pelo camisola amarela Tadej Pogacar (UAE Emirates), que manteve as diferenças para os perseguidores na geral: tem o belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) a 45 segundos e o dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), bicampeão em título e terceiro da geral, a 50.
Dizem que tudo acontece por um motivo e, talvez, tenha sido premonitório o facto de a quinta etapa não ter tido qualquer interesse — hoje, efetivamente, os ‘holofotes’ pertenciam exclusivamente a ‘Sir’ Mark Cavendish e tudo o que aconteceu nos 177,4 quilómetros entre Saint-Jean-de-Maurienne e Saint-Vulbas conduziu ao histórico momento no Tour.
O início da tirada revelou a pior faceta do novo ciclismo, em que os corredores tomaram o poder e fazem aquilo que lhes apetece, sem respeito pela organização ou pelo público. Expresso em ataques a ‘brincar’, como o do quarto classificado, o espanhol Juan Ayuso (UAE Emirates), e do seu compatriota Oier Lazkano (Movistar), num ritmo mais adequado aos quilómetros neutralizados do que a uma corrida ‘a sério’ ou na ‘farsa’ de Pogacar a puxar na frente do pelotão, o desrespeito foi tal que até o diretor da prova mostrou toda a sua incredulidade no rádio-Volta.
Pela segunda vez em cinco etapas, o pelotão passeou, exceção feita a Clément Russo (Groupama-FDJ) e Mattéo Vercher (TotalEnergies),os dois franceses que tiveram a ousadia de romper o silencioso pacto dos corredores para se aventurarem em fuga, decorridos que estavam já 30 quilómetros, e que construíram uma vantagem que chegou a ser superior a quatro minutos.
Os quilómetros foram passando sem qualquer motivo de interesse, até que, a 59 da meta, Pogacar causou uma queda — o camisola amarela escapou por pouco à colisão com um sinal num separador central –, que apanhou Nelson Oliveira (Movistar) e Pello Bilbao (Bahrain Victorious), sem consequências graves.
A fuga acabou a 36 quilómetros da meta, fruto do trabalho da Alpecin-Deceuninck e da Lidl-Trek, e o sprint para a história consagrou Cavendish, agora recordista solitário de triunfos na ‘Grande Boucle’.
No pelotão que ‘escoltou’ o britânico chegaram todos os portugueses, que mantiveram também as posições na geral: João Almeida (UAE Emirates) é oitavo, Rui Costa (EF Education-EasyPost) é 47.º e Oliveira está 10 lugares mais atrás.
Na quinta-feira, o britânico da Astana pode tentar acrescentar mais uma linha ao seu vasto currículo — tem 165 vitórias na carreira – na sexta etapa, que liga Mâcon a Dijon, no total de 163,5 quilómetros planos.
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