Georgina Miranda, professora norte-americana de yoga e meditação no Porto, conta que, desde que foi levantado o estado de emergência por causa da pandemia, houve um aumento de procura por aulas de yoga e de meditação, considerando que a maior necessidade de terapêuticas que envolvem a parte física e mental como um todo se justifica por provocar sentimentos de bem-estar às pessoas.
As pessoas sentem-se "melhor", com “mais poder interior” e a “controlar as emoções”, mesmo que no exterior tudo esteja “louco”, descreve Georgina, que leciona aulas de yoga e de meditação no centro do Porto, num espaço chamado Manna, que recebe praticantes locais e turistas estrangeiros.
Para Georgina, o dom do praticante de yoga em se fixar no momento presente é "importante", porque o ajuda a conectar-se com algo maior do que o seu "eu" e o seu "stress".
As pessoas estão a “sufocar" com o futuro incerto ou com “remorsos do passado" e o yoga ajuda a usufruir do "agora", explica.
Diana Freitas confessa que o yoga lhe deu a “força” e a “tranquilidade" necessárias para ultrapassar os dias com os filhos em casa durante o estado de emergência e que, agora, não quer abandonar a prática da meditação e do yoga. "Sinto que foi uma coisa que me deu um suporte enorme”.
O proprietário do Manna, Hélder Miranda, confirma um aumento de procura de aulas terapêuticas com a pandemia.
Com o desconfinamento, as aulas presencias de yoga passaram e ficar "esgotadas" com uma ou duas semanas de antecedência, conta, referindo que cada vez há mais procura de turistas alemães e dos países nórdicos naquele espaço localizado no coração da cidade do Porto, com paredes de vidro e um telhado que abre para o céu, dando a sensação de se estar na natureza.
Joana Cruz, professora de pilates, treino de equilíbrio, mobilidade, tonificação muscular, ‘bodybalance’ e treino de alongamentos, diz que as aulas que tratam o indivíduo com um todo (corpo e mente) estão a “ganhar terreno” a outras modalidades.
“As holísticas [yoga, pilates, bodybalance] trazem às pessoas uma tranquilidade que as outras aulas não trazem. Quando elas entram numa sala de holísticas saem de lá mais leves. Levam um ‘boom’ de energia completamente diferente”, descreve, destacando que, com o desconfinamento, a solução para praticar atividade física mudou do interior dos ginásios para o ar livre.
O exercício em parques públicos, praias, jardins municipais, zonas perto do metro ou mesmo junto a estádios de futebol tem funcionado bem, assegura.
"Tenho dado aulas de pilates no exterior e tenho tido cada vez mais procura. As pessoas têm medo de voltar ao ginásio, de apanhar o vírus", descreve.
O PT Vítor Silva não tem dúvidas de que há uma mudança de paradigma com a covid-19, observando que as aulas ‘online’ e os treinos ao ar livre vieram para ficar.
“Muita gente descobriu que o ‘online’ funciona para elas, o que é ótimo" e o ‘outdoor’ na época do verão também "funciona muito muito bem", porque há sol e espaços verdes no Porto.
Laura Silva, aluna que optou por treinos 'online' e ao ar livre com PT, conta desistiu do ginásio por causa do estado de emergência.
“Durante a quarentena fiz sempre [aulas] via virtual. Depois, quando se levantaram as restrições, passei a fazer sem ser via virtual porque gosto de estar em contacto com a natureza e de estar com o professor presente”, relata, acrescentando que fazer exercício físico ao ar livre é muito mais “desafiante”.
“Fico muito mais bem disposta e consigo gerir o meu horário de uma forma diferente da do ginásio. Na maioria dos ginásios, na hora de ponta, é complicado fazer o exercício ou a aula que pretendemos, enquanto na rua podemos fazer exercício à hora que quisermos sem as condicionantes sem estar cheio de gente, ainda por cima nesta época covid”.
Patrícia Fonseca, psicóloga e PT, relata que, com o desconfinamento, os seus alunos começaram a preferir o exercício 'outdoor'.
A professora afirma que com a chegada da pandemia, trabalhar o corpo e a mente dos alunos com a ajuda da psicologia, poderia ser a “junção perfeita” das duas profissões, porque as pessoas precisam de uma resposta mais global numa altura especialmente “desafiante”.
André Cottim, PT no Porto, sustenta que o novo paradigma vai manter-se enquanto as pessoas estiverem receosas, porque ir ao ginásio ainda é "sinónimo de contágio".
"O receio do desconhecido e do invisível está bem intrínseco nas pessoas", observa, referindo que, quanto maior a faixa etária, menor a taxa de frequentadores de ginásio.
"Cada vez mais se nota que quem vai ao ginásio são pessoas, regra geral, até 50/55 anos”.
*Por Cecília Malheiro (Texto) e José Coelho (Fotografia) da agência Lusa
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