Dani demorou para ser unânime no Brasil, principalmente por ser mais um caso de jogador que saiu muito cedo do país para brilhar no futebol europeu. Na Seleção, foi reserva por um bom tempo antes de se tornar titular absoluto há alguns anos. A sua impressionante lista de títulos — ainda é o jogador mais titulado de sempre —, por Sevilha, Barcelona, Juventus e PSG, alçou-o para o hall dos maiores de todos os tempos. Mas Dani Alves sempre foi personagem secundária.
No Sevilha, era o conjunto que chamava a atenção. No Barcelona, principalmente no de Guardiola, Daniel era uma arma ofensiva importantíssima pelo lado direito, mas era Messi quem brilhava e Xavi/Iniesta quem comandavam as ações. Foi sempre assim por onde passou. Dani Alves é um excelente jogador associativo, que participa ativamente da construção das jogadas e nas movimentações ofensivas, um jogador muito útil e surpreendente partindo do lado direito da defesa.
Com técnica apurada, conseguiu vencer o declínio físico acertando cada vez mais passes e triangulações e sabendo a altura certa de se movimentar com mais intensidade. Aos 36 anos, foi o melhor jogador da última Copa América e não vê concorrentes à sua posição na seleção. No entanto, decidiu voltar ao Brasil para jogar no clube do seu coração, o São Paulo. E, com essa mudança, talvez veio o seu maior desafio individual no futebol.
Sem a organização tática do futebol europeu e sem a segurança de jogar em equipas que atacam a maioria do jogo contra 80% dos adversários, Daniel teve de se readaptar ao futebol brasileiro. Os jogos, principalmente no Brasileirão, são muito equilibrados e “lá e cá” como se costuma dizer. É preciso recompor rapidamente para não perder o equilíbrio defensivo e não há muita cadência na construção das jogadas.
Pensando nessa dificuldade e na capacidade associativa de construção de jogadas, o lateral tornou-se centro-campista no São Paulo e joga com a camisola 10. Mas somente agora, em 2020, Dani Alves parece confortável nessa função ao lado dos novos companheiros. O São Paulo de Fernando Diniz, treinador conhecido por praticar um futebol de posse mas com poucos resultados na carreira, finalmente mostra evolução e a chave parece residir no seu 10.
Como um segundo trinco ou um médio centro mais à direita num triangulo central, Daniel participa na saída de bola da defesa e nas tabelas no ataque. Assim, tem conseguido penetrar na defesa adversária, vindo de trás, e causar o desequilíbrio necessário para aparecer livre para finalizar. Mas, talvez mais importante, mostra liderança e um trabalho de equipa que são a principal razão da sua contratação.
O São Paulo não vence um campeonato desde 2012 e tem vivido sempre sob pressão. Com muitos jogadores jovens, Daniel veio para trazer o “costume” de ganhar títulos. A sua mentalidade vencedora deve inspirar a equipa a superar todas as dificuldades e traumas em busca de novas vitórias. Num clube com tantos problemas políticos extra-futebol e com rivais mais organizados, como o Flamengo, não será nada fácil.
Mas o ano ainda agora começou e o “Good Crazy” parece mais à vontade com a cidade e o novo clube. O São Paulo dá sinais de que pode ser mais produtivo ofensivamente do que na última temporada. E a primeira, e mais fácil chance de obter um título, o Campeonato Paulista, parece ao alcance da equipa, já que os rivais ainda não engrenaram. É a oportunidade para Daniel adicionar mais uma taça ao currículo e ajudar um grande clube, o do seu coração, a sonhar.
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