Foi um resultado talvez expectável, mas nem por isso menos significativo: Rui Costa foi eleito o 34.º presidente do Benfica com 84,48% dos votos depois das eleições aos órgãos sociais do clube.

Rui Costa, recorde-se, já era o presidente interino do Benfica depois da saída de Luís Filipe Vieira em julho, mas convocou eleições antecipadas para legitimar a sua liderança. E assim foi. Com Francisco Benitez pela frente, o “maestro” dos encarnados recolheu a maioria dos votos, com a oposição a ficar-se pelos 12,24% da votação — num ato que representou a maior mobilização de sempre em eleições para o Benfica, com 40.085 sócios votantes.

Os resultados parecem ser incontestáveis, mas nem por isso o clube passou ainda a tempestade pós-Vieira. O ex-presidente do Benfica — que marcou ontem presença junto ao Estádio da Luz e, como tem sido seu apanágio nos últimos tempos, gerou controvérsia — deixa um legado que Rui Costa irá agora simultaneamente procurar continuar e contrariar.

  • Continuar, porque o rumo que Vieira deu ao clube desde 2003 consolidou o Benfica financeiramente, deixou obra infraestrutural (e não só) e, apesar dos desaires mais recentes, engrossou o palmarés encarnado.
  • Contrariar, porque os últimos anos representaram um desnorte da direção benfiquista a nível de gestão, que se saldou não só na inconsistência dos resultados desportivos, como na sistemática associação do Benfica a casos judiciais, principalmente devido a Luís Filipe Vieira.

Rui Costa recebeu assim um presente envenenado de Vieira: sendo o seu “delfim” enquanto vice-presidente e administrador da SAD, foi preparado para assumir um cargo que muitos consideravam já certo ser seu num futuro próximo. No entanto, fica também associado a uma figura que foi gerando cada vez mais anticorpos junto da nação benfiquista, não só por estar a braços com a justiça, mas pelas decisões controversas que foi tendo à frente do clube — lembremo-nos apenas da forma como Rui Vitória e Bruno Lage saíram e a polémica com o regresso de Jorge Jesus.

Foi por isso que, já de madrugada, contados os votos e apurados os vencedores, Rui Costa falou na necessidade de um “novo ciclo”. “Sucedo a Luís Filipe Vieira, cuja obra de recuperação e consolidação do Benfica ao longo de 18 anos merece o melhor dos reconhecimentos. Mas, amanhã, inicia-se um novo ciclo, com redobrada ambição no futuro. Para isso, temos de nos unir para sermos ainda mais fortes, respeitando a diversidade, mas unidos na ação, porque a causa que nos une é o glorioso Sport Lisboa e Benfica”, disse.

Essa união, porém, não é um dado adquirido. As feridas geradas pela direção de Vieira e a desconfiança de alguns setores benfiquistas face a Rui Costa permanecem. Benitez, apesar de felicitar o vencedor, avisou que “a união não se pede, mas conquista-se”.

O que se segue para o Benfica e para Rui Costa? Com a época a correr de vento em poupa a nível desportivo, é fácil assumir que o novo presidente chega com o trabalho facilitado. Mas todos os que acompanham o mundo do futebol sabem que as coisas podem mudar muito rapidamente e para pior.

Além disso, Rui Costa não só quererá fazer esquecer Vieira como procurará estabilizar as contas do clube depois das perdas com a pandemia e com a ausência de participação na Liga dos Campeões na época passada, face ao investimento avultado feito na equipa. Será que abrirá as portas a investimento externo? E como potenciará as modalidades, que têm vindo a perder fulgor face à concorrência de outros clubes?

Se o Benfica é uma orquestra a precisar de afinação, Rui Costa precisará de puxar dos seus galões de “Maestro” para a música ser outra.

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