Fabio Carille era treinador adjunto no Corinthians no início da fase vitoriosa do emblema paulista que teve como auge o Mundial de clubes conquistado diante do Chelsea, que teve ainda Mano Menezes e Tite como treinadores e destaques nacionais; dois treinadores que deixaram o Timão para assumir a seleção brasileira.
Durante esse longo período, as vitórias do Corinthians foram sempre pautadas por fortes sistemas defensivos e por um time de contra-ataque agressivo que, ocasionalmente, teve fases mais criativas na frente.
O modelo funcionou muito bem e estava totalmente alinhado com a cultura de raça e entrega que a torcida corinthiana valoriza.
Carille, principalmente na passagem de Tite, era o responsável pelos treinamentos do setor defensivo. Assumiu o time no final de 2016, cercado pela desconfiança da torcida e da imprensa. Teve um 2017 de sonho.
Campeão paulista e brasileiro em 2017, com uma primeira volta invicta no Brasileirão, Carille conseguiu fazer uma omolete sem ovos e fez um ano primoroso e em total sintonia com a direção, do presidente Roberto de Andrade ao ex-jogador e diretor Alessandro. O seu sucesso criou a moda de promover e efetivar adjuntos ou treinadores das categorias de base à equipa principal.
O ano de 2018 veio e Carille continuou a ter sucesso. Mas o regresso de Andrés Sanchez à presidência do clube tirou paz ao treinador. Com divergências com o novo presidente, Carille deixou o clube para assinar pelo Al-Wheda, da Arábia Saudita, depois de ter rejeitado outras propostas milionárias do futebol árabe. Dizia que queria promover e elevar o futebol local e foi seduzido por um projeto de crescimento.
O regresso relâmpago para o time que o projetou foi uma surpresa no final de 2018. A péssima campanha do Corinthians, na 13ª posição, colocava pressão na presidência de Andrés e justificava a reaproximação ao treinador, muito valorizado agora tanto pela imprensa como pela torcida. Carille parecia o melhor nome para fazer render um plantel renovado, mas inferior ao dos ricos Palmeiras e Flamengo.
Não funcionou.
O Corinthians não era mais o mesmo. Carille não tinha mais o apoio dos diretores de outrora na gestão do balneário, nem a blindagem e suporte do presidente. Encontrou um plantel com jogadores não necessariamente ideais para o seu esquema preferencial e com grande influência de empresários.
Fabio Carille, também, não conseguiu ser mais o mesmo. Teve muitas dificuldades em fazer o Corinthians atacar. A solidez defensiva ainda estava lá, mas o pobre futebol apresentado e, principalmente, a incapacidade de conseguir vencer alguns jogos começaram a pesar. Esta última sequência negativa, de oito jogos sem vencer, expuseram os problemas de um time que ocupava o quarto lugar sem convicção. Foram oito jogos em queda livre até à oitava posição, com um desempenho cada vez pior e entrevistas mal conduzidas que criaram ainda mais ruído na relação com os jogadores.
Mas nem o Campeonato Brasileiro é mais o mesmo. O efeito causado pelo bom futebol do Flamengo de Jorge Jesus mudou os parâmetros de avaliação do trabalho dos treinadores. Jogar defensivamente agora é um pecado para parte da imprensa e a pressão sobre times pobres ofensivamente, como o Palmeiras de Felipão, o São Paulo de Cuca e esse Corinthians de Carille cresceu muito. Os três perderam os empregos depois de sequências de tropeços sem mostrar sinais de que conseguiriam melhorar o desempenho dos jogadores.
A demissão de Carille tornou-se inevitável, mas ele é apenas o bode expiatório de um processo de planeamento pobre da direção do Corinthians e de uma péssima gestão interna no futebol alvinegro. A incapacidade de fazer esse time jogar, coloca o treinador num ponto fulcral da sua breve e, até aqui, vitoriosa carreira. Hoje, sai em baixa e com uma imagem bastante arranhada.
Será Carille capaz de fazer uma equipa construir mais e melhor, ofensivamente? Na atual moda de futebol ofensivo, gerada pelo efeito Jesus, ele tem espaço em algum time tão grande quanto o Corinthians?
É hora de refletir, estudar e procurar a sua evolução como técnico. E escolher com muito cuidado o próximo trabalho para continuar a evolução da sua carreira. De incógnita à coqueluche em 2017. De solução a incapaz em 2019. Carille precisa conviver com o seu inferno, como conviveu com seu período no céu.
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